O homem e a sede do poder

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Natacha Cabral

A sede do poder é uma doença não-diagnosticada, contudo, prevalece há muitos anos e em força, continuando, incessantemente, a contaminar a mente e a alma dos que por aqui passam. Todos nós nascemos com poder e é impossível tentar tirá-lo às pessoas, uma vez que em algum momento das suas vidas terão de liderar, seja como mãe, pai, professor, chefe, etc. Seja como for, note-se que usei a palavra “liderar” intencionalmente, uma vez que poder tem em si uma espécie de conotação negativa e de exercício de domínio sobre algo ou alguém.

Infelizmente, a sociedade ensina as nossas crianças a crescer com esta ideia deturpada sobre poder, entendendo-a como uma necessidade de ser competitivo em relação aos seus vizinhos, como meio de se destacarem no mundo. O problema está em que não é sobre esse tipo de poder que deveríamos ensinar ou prestar atenção, porque isso significa a procura de poder numa fonte externa, e, como dizem os ingleses “in all the wrong places”. Refiro-me ao que provém de dentro de nós, um poder autêntico, e tal só acontece quando nos rendemos a nós mesmos e aceitamos a nossa insuficiência, quando abdicamos dos nossos excessos e de controlo desmedido. Somente uma transformação interior dará lugar a um estado de paz, pelo que a palavra poder deixará de fazer mais falta no nosso vocabulário.

John Dalberg, um filósofo inglês, afirmou que “o poder corrompe”, enquanto Osho, um líder espiritualista, discorda, afirmando que é a alma desse alguém que já é corrupta. Eu prefiro acreditar que navegamos algures pelo meio. Dentro de todos nós existem sentimentos bons e menos bons, sonhos e desejos, todavia quando a alma não é pura e a consciência não está devidamente desperta, a entrega do poder poderá ter consequências nefastas. É quase como colocar uma arma na mão de uma criança de 5 anos que não faz a menor ideia do poder que tem nas mãos.

O poder, na sua forma mais simples, é neutro, mas entregue nas mãos dum tirano torna-se uma maldição, enquanto que nas mãos de um bom líder se poderá tornar numa bênção. É só parar para ver aquilo que se passa à nossa volta e facilmente entendemos porque luta tanta gente e porquê tantas guerras. Pessoas deste tipo no poder não olham a meios para atingir fins e veem a guerra como um meio que se justifica em si. 

Apenas uma mente limpa e em sintonia com um coração cheio poderá inverter o rumo dos acontecimentos que a humanidade tem vindo a assistir, quiçá, para algo mais pacífico e feliz.

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