Lá vai ele, o idoso, no seu espaço
e de passo lasso
não pensa no que andou ou no destino.
Com embaraço
sabe que o seu tempo é escasso
e que há muito perdeu os seus sonhos
de menino.
Crê que a vida já lhe deu tudo,
e sisudo, mudo,
não lhe interessa saber o que fará.
Ao deus-dará, continua sozinho
o árduo caminho
longe do aconchego do ninho,
na incerteza de um novo amanhã.
Prende o seu olhar desinteressado
ao escuro chão,
sabendo que a ninguém preocupa
a sua condição
de ser humano arredado,
atropelo para a nova vivência
regida pela independência.
Os que um dia velhos serão
não sabem o que é chegar ao termo
do tempo de ilusão,
o inevitável inferno
do desterro, da exclusão.
Pior será quando souber que a família
numa encenada assembleia
urdiu a teia
e vai atirá-lo para um asilo qualquer!
Eugénio Monteverde