O partido dos esquecidos

Gonçalo Fagundes Meira
Gonçalo Fagundes Meira

Nos estados democráticos, os processos reivindicativos e a agitação social são direitos inalienáveis dos cidadãos. Se estas prerrogativas estivessem limitadas nas leis, a democracia estaria amputada nos seus valores fundamentais.

Infelizmente, talvez por inexperiência ou falta de vontade das partes, nem sempre os diferendos são precedidos de negociações objetivas e pragmáticas, mas nada de acomodamentos, porque estes só resultam em prejuízo das populações. Realismo e apreciação objetiva de contextos são princípios que devem imperar quando os desacordos surgem, porém está provado que as soluções para os problemas, em contexto geral, só acontecem quando estes ganham visibilidade e mobilizam a comunicação social. Na vivência mais geral das populações, por vezes, espera-se anos pela resolução de um problema básico, no entanto logo que as televisões e os jornais lhe dão saliência quem manda e tem o poder acorda.

Contudo, o direito às justas reivindicações e ao protesto deve ser extensivo a todos. Mas se estivermos atentos às movimentações da nossa sociedade, concluiremos facilmente que tal, em muitos campos, não tem passado de figura de retórica. Se nos questionarmos sobre a incidência dos grandes movimentos reivindicativos, especialmente nos últimos anos, ninguém terá dúvidas de que, de fora, ficaram as forças do trabalho direto.

As gentes das grandes superfícies; das fábricas dos têxteis, vestuários e calçado; da metalurgia, construção civil e outras; bem como a gente do mar e dos campos passaram ao lado, ou quase, destes processos. Não fossem, pontualmente, alguns partidos à esquerda e o movimento sindical (este a perder visibilidade e com dificuldades de movimento, também muito por culpa própria) e nem se dava pelos trabalhadores destas atividades económicas, árduas, incapacitantes e boa parte delas fator determinante nas exportações e num menor desequilíbrio das nossas contas externas.

Estamos em campanha eleitoral, porém, veja-se o que são as agendas dos partidos políticos e os assuntos que tratam e debatem. Quem tem estado na penumbra, quem trabalha e quase só tem como objetivo a defesa do seu posto de trabalho – muito pouco protegido –, a tendência é para que oculto continue. Às vezes, a ver os telejornais, pergunto-me se, há muito tempo, não devia ter sido criado o partido dos esquecidos.
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