É um problema sério demais. A água torna-se escassa porque, cada vez mais, chove menos. Mas, estando estatisticamente provado que nas últimas décadas a precipitação está em constante diminuição, só nos lembramos do problema e ensaiámos resolvê-lo nos anos em que severamente somos castigados com ausência de chuva. Depois, estabelecidos equilíbrios mínimos, omitimos o assunto.
Em 1990/92 tivemos uma das mais longas e rigorosas secas, era ministro do Ambiente e Recursos Naturais o Eng. Carlos Borrego. Lembram-se do spot que passou à exaustão nas televisões, “a água não cai do céu”? E não caía, como não tem acontecido noutros períodos de que bem nos lembramos. Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, nas duas últimas décadas do século XX, “intensificou-se a frequência de ausência de chuvas, em particular nos meses de fevereiro a abril”. É de admirar que um organismo público dependente do Estado, possuidor de fundamentada informação, não seja levado a sério em matéria de tanta delicadeza, pondo em causa a qualidade de vida das pessoas e até a própria vida.
Voltando a Carlos Borrego, em junho de 1993, pouco tempo antes de deixar de ser ministro (já lá vão 29 anos), em entrevista sobre problemas ambientais a um jornal escolar de Aveiro, afirmou: “Portugal é um país que tem muita água no Norte e pouca no Sul. Vamos ter que a transferir da região onde existe para aquela em que é escassa. Vamos buscá-la ao Douro, passamo-la para o Tejo e deste para o Guadiana. Pelo caminho, vamos distribuindo água às populações que dela precisem para regar”. Lembramos este facto porque ele é ilustrativo da forma como alguns poderes vão debitando soluções, aparentemente sonhadoras, e como nada se vai fazendo, para na hora de apuro solicitar compreensão às populações e poupar na água até onde for possível, que é o que, por exemplo, vai fazer o nosso Município com o conjunto de medidas que já deu a conhecer. Não se questionam ações para minimizar problemas, mas com soluções de circunstância para contextos especiais é que não vamos lá.
Na última edição do jornal Expresso, Luísa Schmidt, uma especialista de renome em questões ambientais, depois de escalpelizar a ausência de medidas para tratar tão delicado assunto, citando o facto, entre muitos outros, de em Portugal não haver sequer planos de contingência para a falta de água, acaba a dizer que “esta lição da seca nos humilha verdadeiramente”.
Todos ficamos humilhados, na verdade. Só podemos ficar envergonhados e tristes quando, em matéria tão grave, sentimos a negligência de quem nos tem governado.