Em meados de janeiro de 1923, há aproximadamente um século, a Folha Independente, Feita Para Toda a Gente, denominada de A Paródia, cinzelava nas suas páginas o sarcasmo merecido por uma sociedade embriagada pelos longos anos de ilusão da I República (1910-1926). Hodiernamente, a hipnose ainda persiste, mais que o vírus da Covid-19.
Ao fim de um século a política portuguesa pauta-se por intervenientes que, à custa de um povo dormente, lhes administra ainda mais largas e ricas porções de hipnotismo, como que dizendo ao Zé Povinho: Olha bem para os meus olhos, o Estado é uma entidade de bem, governado por anjos, e não pelos demónios que teus olhos vislumbram…
Ora, o Zé Povinho adormece, devagar devagarinho, deixando-se embalar, num balanço bem mansinho, e por Lisboa se prepara um Altar, para o Papa que vai chegar, e milhões por lá pisar. Diz o autarca de Lisboa; “é o maior evento das nossas vidas”, mas que belas essas cantigas, de que fala o demagogo? Será todo católico o Povo? Nessa conversa da treta, assina-se à pressa e a caneta, os contratos trapalhões, que farão o pobre adormecido, ver-lhe gastar mais milhões. Que triste País é este, falido amiúde, sem verbas para a saúde, nem para docentes e auxiliares? Que triste covil o nosso Parlamento, onde se assanham a todo o tempo, parecendo até o Zé defender, mas lhe depredando com contentamento, o pouco que tem para comer? O Zé Povinho, que fora hipnotizado, vendeu a alma ao Diabo na hora das eleições. Há 49 anos que escolhe os mais medíocres vendilhões, da banha da cobra, sebosa e mofenta, deitando-lhe a “água benta”, parecendo artigo do paraíso. O Zé Povinho, em riso, aparta das urnas o siso, e a Nação comporta-se sem perdão. O Pais hipnotizado, deixa-se ser roubado, desgovernado e corrompido, agoniado e perdido, alienado da mais elementar ética, da mais efémera moral, e assim, rindo e cantando, as cirragas desbaratam Portugal. Que triste hipnose, dada ao Zé Povinho, que ao charlatão acode…nas longas “jornadas”, as “jornadas” da fome!