O Senhor Regado e a paixão pelos estuques

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Era um antigo assinante do nosso jornal e faleceu há pouco mais de um ano. Por várias razões, entre elas a sua postura cívica, tínhamos previsto referir o seu desaparecimento. O tempo foi passando e o conhecimento sobre o Senhor Regado também se foi aprofundando. Já sabíamos que ele, para além da sua elegância de trato, usando de deferência no procedimento com terceiros, algo que, infelizmente, hoje se verifica menos, era também um apaixonado pela arte dos estuques. 

Atividade hoje em reabilitação e estudo, particularmente no Norte de Portugal, com destaque para o nosso Museu Municipal, com área própria, onde pontifica Filipe Freitas, prestes a iniciar um doutoramento sobre esta variante decorativa, ou de Iva Viana, uma vianense que se dedica por inteiro a esta atividade.

Mas é do Senhor Regado que pretendemos falar. Quando passávamos pela casa que habitava, bem junto à capela da Senhora d’Agonia, apercebíamo-nos do esmero em que tinha a sua moradia, regularmente, com discrição, a dirigir os trabalhos de restauro na mesma. Notava-se que era muito cuidadoso e aperfeiçoado em cada obra que mandava executar. Convidados pela família, observamos o interior da habitação, onde constatamos que, sem exageros, antes em estilo sóbrio, aqui mora uma decoração de refinado gosto, particularmente ao nível de tetos, onde os estuques que soube imaginar se destacam particularmente.

Exigente em cada compartimento que decorava, era capaz de levar a qualquer parte do país, onde sabia de obras em execução, os seus estucadores para que observassem pormenores que ele tinha em mente. Nestas condições, o resultado só podia ser o que verificámos: um trabalho decorativo, sem exageros, mas que dá prazer observar, e se torna reconfortante para quem aprecia o belo.

O Senhor Regado (1929/2022) partiu, já com 93 anos, mas feliz por ter sido protagonista da beleza interior que criou na casa que legou à família, bem como na habitação de um familiar que morava ao seu lado, onde o bom gosto também se fez sentir. Hoje gostaríamos de felicitar este Senhor elevado e culto, que ao longo de décadas foi lendo o que neste jornal se escreveu. Resta-nos lembrá-lo como cidadão urbano que foi. 

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