O sofrimento humano

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A. Lobo de Carvalho

O nosso planeta tem vindo a ser tão desgastado a todos os níveis, que, como proclamam os entendidos, a civilização humana poderá acabar por se autodestruir, vítima das diversas ideologias instaladas que definem e orientam políticas erradas de muitos governos. Com efeito, estamos a viver uma era de loucura, em que a psicose do medo pela insegurança se transformou numa doença incurável, cuja dimensão atinge não só a Europa como também outros países.

Este estado psicótico do medo por parte, sobretudo, dos governos ocidentais, é real e está a desencadear uma corrida desenfreada aos armamentos como não se via desde a segunda guerra mundial, absorvendo importantes recursos para aquilo a que chamam defesa, quando, na verdade, tais recursos deveriam ser orientados para acabar com a fome e a pobreza no mundo. 

Está mais que provado que a União Europeia e os países seus aliados têm medo da Federação Russa, por ter invadido a Ucrânia. Um medo de tal ordem, que se uniram todos para alimentar o combate contra os russos, enterrando biliões e biliões de euros e de dólares em armamento do mais sofisticado para oferecer àquele país, transformando-o num tampão face a uma eventual investida russa para o interior europeu. E os ucranianos são tão ingénuos que, sob o orgulho de um nacionalismo duvidoso, nem lhes passou pela cabeça que se transformariam naquilo a que se chama “carne para canhão” dos países ocidentais. É o que está a acontecer diariamente.

Penso que a guerra não teria acontecido se não houvesse uma cegueira nacionalista que não corresponde à realidade social. É que se a Ucrânia tem regiões cujos povos se identificam com o povo da Rússia e é com este povo que desejam irmanar-se, porque é que o governo não lhes proporcionou uma auscultação através de um mecanismo legal chamado “referendum”, em vez de os combater? E se a Federação Russa apoia e defende as regiões russófonas da Ucrânia, com base nos fortes laços históricos, é de inferir que estará no seu pleno direito, porque se trata de povos irmãos em que os sentimentos de união se evidenciam muito mais profundos do que aqueles que, à pressa, os países ocidentais construíram com a Ucrânia.

Fala-se muito, actualmente, do genocídio que os russos estão a provocar ao povo ucraniano. É um facto, sim, que as baixas por morte têm sido elevadas, mas, se virmos a situação por outro ângulo, não se deverá em boa parte ao próprio governo ucraniano em persistir com o conflito, quando poderia tê-lo estancado através da consulta popular que os russos teriam aceitado? Assim, o conflito armado chegou a um ponto tal que só a diplomacia poderá pôr-lhe fim, considerando que nem a OTAN/UE nem a Rússia vencerão pela força das armas. Até que isso aconteça, tanto a Federação Russa como a Ucrânia continuarão a inundar os campos da morte com a sua juventude e outros grupos etários na pujança da vida. Tenho a convicção profunda de que nunca a Federação Russa cairia na tentação de atacar países da OTAN, porque os russos não são loucos e sabem ao que se exporiam. Pelo que o fornecimento de material militar sem limites à Ucrânia, com assinatura e participação dos países da UE e OTAN, constitui mais uma provocação à liderança russa e um apelo à continuação da guerra, que vai reduzindo a pó as cidades ucranianas e eliminando uma população. Os factos no campo de batalha falam por si e só não vê quem é cego. Os líderes europeus, a começar pela presidente da Comissão, parece que ficaram alucinados, com uma fixação na Ucrânia, esquecendo-se do sofrimento que causam aos seus próprios povos.

As sucessivas vénias ao presidente da Ucrânia, por parte dos titulares dos órgãos políticos da União Europeia, dos países que a compõem, dos americanos, dos ingleses e outros, não passam de manifestações de um amor volátil, porque nisto da política o que pontifica não é a paixão amorosa, mas sim e apenas os interesses. E é em nome desses mesmos interesses que este conflito se arrasta, ceifando tantas vidas de ambos os lados. Este conflito é, de longe, o maior e mais brutal campo de ensaios para os americanos e ingleses testarem as capacidades das suas armas mais avançadas e aumentarem este negócio chorudo. Souberam, sem dúvida, aproveitar-se da ingenuidade e inexperiência de uma recente e inábil liderança política ucraniana, construída a partir de palcos humorísticos fantasiosos que nada têm a ver com a dura realidade. 

Será bom que este conflito militar não evolua para o nuclear e que tenha o seu fim, rapidamente, para que os povos dos dois lados alcancem uma verdadeira paz e a Europa e o mundo respirem de alívio. Contudo, duvido que tal aconteça, não só porque as posições estão demasiado extremadas, como também porque a OTAN e UE estão interessadas em manter o conflito armado para humilhar a Federação Russa, na convicção de que esta sairá derrotada. De resto, isso está bem evidente na recente emissão, pelo Tribunal Penal Internacional, de um mandado de captura contra o presidente da Federação Russa, que constitui o auge da humilhação a que se pretende submeter não só o presidente Vladimir Putin, como também o povo da própria Rússia. E isto, certamente, o povo russo rejeita e não esquece. 

Nota de regozijo

Numa recente edição deste jornal escrevi um texto em que manifestava o desagrado de, com a demolição do prédio Coutinho, ter ficado à vista de todos aquilo a que chamei um borrão, com alguns prédios de aspecto descuidado. Nesse conjunto, identifiquei três, entre os quais a capela de S. Bento como merecedora de, pelo menos, uma pintura exterior, em vista da sua história e como lugar de culto religioso que é.

Nos últimos dias reparei que se encontrava em obras, e apresenta-se, agora, uma capela airosa, de cara lavada e, talvez por isso, mais acolhedora, que dá gosto ver e nela entrar.

Venho, assim, manifestar o meu regozijo e transmitir os sinceros parabéns a quem determinou as obras de pintura, que, certamente, não terão decorrido da minha chamada de atenção, mas o que importa é que tenham sido realizadas, tornando aquela casa sagrada num monumento mais airoso para a cidade e para os vianenses, e mais apelativo para ser visitado.

O Autor não acompanha o atual acordo ortográfico

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