O solstício de Inverno e Stonehenge

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O dia está tristonho e o céu da cor do chumbo. Anoiteceu mesmo muito cedo. Como estou sempre atenta aos fenómenos da natureza e me apraz o começo de tudo, particularmente o começo e o mistério da vida, fico feliz ao ver que daqui para a frente o sol se ergue cada vez mais alto no céu, amanhece cedo e tarde anoitece, lentamente desperta a vida na terra e dia após dia vão brotando talos, folhas, flores e frutos. No dia 21 de Dezembro dá-se o solstício de Inverno, o dia mais curto e a noite mais longa do ano. O outro solstício será a vinte e um de Junho, o solstício do Verão. Há muitos, muitos anos, visitei Stonehenge com um grupo de alunos e recordo sempre este monumento associado aos dois solstícios, revivendo o silêncio espontâneo, quase misterioso, que se gerou entre nós ao contemplar aquelas pedras gigantescas, pedras megalíticas erguidas no meio da solidão daquela planície de Salisbúria (Salisbury Plain). Stonehenge é uma espécie de calendário astronómico, formado por pedras que pesam toneladas, dispostas internamente em forma de círculo e externamente em forma de ferradura, de modo a assinalar o nascer e o por-do-sol no dia mais curto e mais longo do ano.

Foi construído no período pré-celta, entre 1900 e 1600 B.C. (before Christ-antes de Cristo) no condado de Wiltshire. Levou mais de trinta milhões de horas a construir. Para além da sua missão de calendário ligado à astronomia, tinha também funções práticas na vida quotidiana, especialmente associadas à agricultura. Consta ainda que servia outros rituais, havendo terríficas histórias de sacrifícios aos deuses neste altar de Stonehenge. Porém, o maior mistério associado a este monumento é a forma como foram transportadas estas pedras que pesam toneladas, desde a parte mais a Norte e ocidental de Wales (Gales), por caminhos estreitos, para o meio de Salisbury Plain.

Associado a Stonehenge e aos seus mistérios, recordo o filme franco-britânico “Tess”, de Roman Polanski, baseado no romance de Thomas Hardy considerado “o último dos grandes vitorianos”. Nesse filme, “Tess”, a protagonista, deita-se simbolicamente no altar de Stonehenge para expiar os seus pecados ancestrais, numa imolação aos deuses, e do alto do morro surge a bandeira negra da prisão de Salisbúria anunciando a sua morte.

Foi este anoitecer tão rápido que me fez voar ao passado, viajando pelos adormecidos solstícios da memória até ao altar de Stonehenge, revivendo a saudosa partilha de tão fortes emoções aí nascidas, na companhia daquele inesquecível grupo de professores e alunos.

Eva Cruz

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