Como os leitores muito bem sabem, quando falamos do Tio-Sam (Uncle Sam em língua inglesa), estamos a referir-nos à nação norte-americana, cujo congresso criou esta personificação e a tornou num símbolo nacional conhecido em todo o mundo. Ora, não consta que o Tio-Sam tenha sido um combatente, mas sim um empresário do ramo das carnes que, com engenho e arte, conseguiu ser o fornecedor preferencial do exército dos Estados-Unidos, nos Sec. XVIII e XIX, actividade em que fez fortuna.
Ao que parece, o Tio-Sam não terá sido uma pessoa arrogante no relacionamento pessoal e profissional, mas antes uma espécie de diplomata para conseguir obter e manter os contratos para abastecimento ao Exército. Contudo, muitos dos dirigentes políticos dos últimos tempos não fazem jus à sua memória, porque são belicosos, criam instabilidade política, alimentam conflitos armados em várias partes do globo para imporem a sua forma de ver o mundo e projectam uma arrogância desmedida, talvez porque tenham herdado o ADN dos antepassados pistoleiros, que resolviam tudo aos tiros, como o fizeram com as tribos de índios que dizimaram aquando do povoamento daquele grande país. Com efeito, essa herança até vem ganhando terreno nos últimos tempos, como o provam, sobejamente, os frequentes atentados contra estabelecimentos escolares, causando a morte a dezenas de estudantes e professores inocentes, mas não só.
É que, neste contexto da arrogância, situo a visita de alguns importantes políticos norte-americanos à República de Taiwan – cuja independência nunca foi declarada nem é reconhecida por muitos países -, que constitui um desafio à soberania e autoridade da República Popular da China (RPC), que considera aquela “ilha formosa”, descoberta por navegadores portugueses, território chinês. Não obstante os avisos do governo da RPC para as consequências dessas visitas desrespeitadoras e mesmo hostis, o facto é que os políticos norte-americanos não só lá se deslocaram, como ainda produziram declarações desafiantes ao governo chinês na questão da soberania, ostentando, manifestamente, uma arrogância desmedida que poderá acabar mal. Provavelmente, os norte-americanos ainda pensarão que o seu país é o polícia do mundo, mas o facto é que este mesmo mundo já não é mais unipolar, nem sequer bipolar, havendo outras superpotências em plena ascensão, como é o caso da RPC.
A grande questão é que a paciência chinesa tem limites e, algum dia – que poderá ser no curto prazo -, este e outro tipo de provocações à RPC poderão ter uma resposta à medida, transformando aquela região do Oceano Pacífico num mar de fogo com consequências extremas para o mundo. Não bastava já a situação na Europa, onde vivemos no fio da navalha por causa da guerra na Ucrânia, sem fim à vista, como temos, ainda, de viver com mais esta possibilidade de outro grave conflito, gerado conscientemente pela sobranceria dos políticos norte-americanos.
Admiro a paciência chinesa perante esta realidade política desafiante, mas não creio que seja ad-aeternum, porque em política existem linhas vermelhas que não devem ser ultrapassadas, podendo originar uma resposta adequada quando tal seja, dolosamente, ignorado.
A humanidade já enfrenta problemas que chegam e que sobram, as nações têm os seus espaços geográficos delimitados para gerir e viver, e é crucial que sejam construídos e reforçados laços de solidariedade para que haja paz e uma sã convivência. Não viemos a este mundo para nos matarmos uns aos outros e os povos construíram muitas coisas positivas. Mas enfrentamos, agora, além da possível eclosão de mais conflitos armados extremos, o gravíssimo problema das alterações climáticas no nosso planeta – a casa de todos nós -, sendo na sua conservação que os Estados devem concentrar todos os meios, em vez de alimentarem guerras que consomem vidas humanas e destroem os recursos naturais que Deus nos concedeu.
O mundo actual vive uma crise de valores sem precedentes, em que não se respeita a vida nem se ama, e em que o egoísmo é privilegiado. Criaram-se leis para o aborto, para a imoralidade, para a eutanásia, para o divórcio, para a homossexualidade, para as ideologias do género, etc.. Deus é desrespeitado continuamente, sendo esta a nova civilização do século XXI, que ignora os referenciais da moral e da ética, e que nos conduz para o abismo! Abismo que se vai abrindo à nossa frente e que só não vê quem não quer.
Não só no país do Tio-Sam, mas também em toda a Europa e um pouco por todo o mundo, a preocupação dos governos poderosos é alimentar os conflitos armados para gastar os stocks de armamento e produzir outras armas mais sofisticadas, e com elas dizimar vidas humanas e destruir os recursos do planeta. É esta a realidade que vem ocupando o espírito de decisores políticos com grande responsabilidade, sem que tornem o mundo mais seguro como pretendem fazer crer. Vivem na loucura, comandam as nossas vidas e caminhamos para um fim trágico.
Ao ponto a que chegaram a imprudência política e as desgraças à vista de todos, que afectam a humanidade, duvido que algum dia seja possível o retorno a uma vida normal. Talvez só com outro dilúvio para limpar este planeta conspurcado pelo egoísmo dos humanos.
Não resisto em citar Martin Luther King, sem ADN de pistoleiro e grande pacifista norte-americano conhecido em todo o mundo:- “Fomos capazes de voar como os pássaros, de nadar como os peixes, mas não somos capazes de viver, simplesmente, como irmãos”.