Opções políticas

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A relativa proximidade das eleições legislativas, que terão lugar daqui a pouco mais de um ano, justifica que os Partidos se movimentem para delinearem as suas estratégias visando aumentar o peso eleitoral e, assim, tornarem-se mais influentes na definição e condução das políticas.

Não tenho dúvidas de que o Partido Socialista (PS) irá tentar reeditar o governo com o apoio das esquerdas, uma vez que é a fórmula que mais lhe convém por ser o Partido maioritário. Por outro lado, os Partidos que lhe têm dado apoio também não desejarão perder a influência que exibiram nesta legislatura, com sucessos reclamados que constituem vitórias, e também não acredito que o PS obtenha, sozinho, uma maioria absoluta, porque os portugueses não andam cegos, como aliás o demonstram as diversas manifestações de rua patrocinadas pelos parceiros da geringonça.

A grande incógnita põe-se ao PSD e CDS, que defendem diversas políticas comuns, mas que parecem caminhar mais vezes indiferentes do que a par um do outro. Para quem observa de fora, fica a ideia de que o CDS pretende sobrepor-se ao PSD, o que me parece um erro quando a medida é explícita através do peso eleitoral de um e de outro. Nas actuais circunstâncias creio que, em coligação, poderiam sonhar com o exercício do poder mas, se forem separados, ambos perderão.

É notório que o actual líder do PSD enfrenta ainda uma fase de plena afirmação, sendo pública alguma tensão e descoordenação no grupo parlamentar, a que acrescem ambiguidades decorrentes de declarações públicas produzidas por alguns altos responsáveis, que deixam os militantes preocupados. Para toldar mais ainda o ambiente, o eterno e irrequieto Pedro Santana Lopes tinha de vir a público com uma grande tirada, que consiste, na prática, no corte do cordão umbilical com o seu amado PPD/PSD, o que denota mau perder. E sabendo-se, como se sabe, que não viu com bons olhos a vitória do seu companheiro de Partido, porta-se como um adolescente ao avançar com a ruptura total e formar um novo movimento ou partido ou lá o que lhe queiram chamar. E então… imagina-se mesmo o que pode acontecer!… Pergunto-me para que serviu aquele abraço exibicionista a felicitar o vencedor e actual líder, Rui Rio! Isto faz-me lembrar o meu saudoso amigo, General Passos de Esmeriz, militar inteligente e muito culto, quando, numa conversa sobre as actualidades de então, me dizia: – “Em política nada é o que aparenta”.

Seja como for, a liderança do PSD deveria intuir que há muitos militantes que não concordam com a aproximação ao PS e muito menos servir-lhe de muleta. Cada Partido tem que seguir o seu caminho e o PSD tem razões fortíssimas para recusar todo e qualquer apoio em termos de política interna, ao PS, depois de ter sido tão intensamente infernizado pela actual liderança socialista. É que os militantes não esquecem o ambiente de ódio das esquerdas unidas contra o PSD, de que resultou a actual maioria, assim como aquilo que foi a quebra do princípio de que quem deve governar o país é o Partido vencedor das eleições. Por estas e outras razões é que os militantes do PSD não aceitam ambiguidades e exigem transparência.

Sou dos que defendo a legitimidade e sempre fui contra jogos viciados, sejam eles de que natureza for. Apoio, assim, e sem reservas, a liderança de Rui Rio à frente do PSD, porque resultou de um acto democrático perfeitamente transparente, mas não deixo de alertar que uma colagem, mesmo que parcial, às políticas do PS, terá reflexos muito negativos. O programa eleitoral a elaborar terá de ser, pois, muito claro nas opções estratégicas e nos objectivos do PSD para o país.

O próximo grande teste será o Orçamento Geral do Estado e o sentido de voto do PSD nesta matéria traçará o seu destino. Não seria a primeira vez que este grande Partido da democracia portuguesa passaria por graves convulsões, embora creia que o passado não se reescreve.

Lobo de Carvalho

(Foto: “o rabelo”)

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