Os 100 anos do Museu de Artes Decorativas de Viana  – 2/5

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Na semana passada mostrámos como foi constituído o Museu de Viana, vamos agora ver como foi constituído o seu espólio.

Quando, em Agosto de 1923, abriu portas, o Museu tinha um espólio muito reduzido: era composto sobretudo por peças retiradas de igrejas (nomeadamente da demolição da Igreja de Monserrate, em 1919), de pedras de armas de solares urbanos também demolidos, de objectos encontrados em escavações arqueológicas de Santa Luzia e outros,  e dos picos asturienses que Abel Viana recolhera nas praias do entre Lima e Minho, e também alguns objectos da vida municipal, como as varas que os vereadores usavam ou a caixa de aferição de medidas do tempo de D. Manuel – sem esquecer que os magníficos painéis de azulejos que três das salas e a capela do solar apresentavam, integravam a exposição do Museu.

Uma vez que este acervo era muito reduzido, como forma de dar dignidade ao Museu, dois dos coleccionadores de antiguidades da cidade, Luís Augusto de Oliveira e Serafim Neves, emprestavam objectos (principalmente cerâmicas) das suas colecções para compor salas, que chegaram a ter os seus nomes. Luís Augusto de Oliveira mandou vir do Porto a estátua do guerreiro galaico, emprestada ao Museu de São Lázaro “com a condição de voltar, logo que se fundasse o Museu Vianense”, como esclarece o “A Aurora do Lima” de 5 de Julho de 1926.

Mesmo assim, Abel Viana foi muito critico desta situação, escrevendo a 15 Março de 1930 no Noticias de Viana “É um Museu de salas vazias onde, a um canto, se amontoam diversíssimas coisas, num pele mele”. 

É de notar que o traje e a etnografia, que começavam a ser muito apreciados com o engrandecimento das Festas da Senhora d’Agonia, não eram ainda considerados dignos de pertencer ao Museu.

Em 1933, com a morte do primeiro conservador, Abel Viana viria a ser convidado para dirigir o Museu e logo escreveu um programa em que mostrava a vontade de transformar o Museu num “álbum da região”, onde o traje teria lugar. Infelizmente,  três meses, depois foi colocado como inspector escolar em Faro não tendo tempo para ocupar o lugar. Seguiram-se no cargo Veríssimo Barros (até 1949) e Clara Pimenta de Castro (até 1951).

Entretanto, em 1940 morreu Serafim Neves e a compra da sua colecção foi proposta à Câmara, que acabou por adquirir apenas 72 peças de loiça de Viana. As restantes peças foram vendidas no Porto, ficando muitas no Museu Soares dos Reis.

Antes, em 1927, também Luís Augusto Oliveira tinha morrido. O seu filho, Manuel Espregueira d’Oliveira, manteve-a intacta, deixando-a, à sua morte, em 1953, ao seu sobrinho Roberto Espregueira Mendes, mas com a obrigação de ele a deixar em testamento ao Museu. Esta situação, de ser apenas o depositário e não o proprietário, não lhe agradou, e acabou por abdicar da herança a favor da Câmara, que a aceitou em reunião de 3 de Dezembro.

Esta colecção era composta por mais de 800 peças de loiça, principalmente de Viana, 27 pinturas (óleos e aguarelas), 75 desenhos de mestres portugueses e franceses, 100 peças de mobiliário do século XVII e XVIII, entre elas contadores e mesas indo-portuguesas, entre outros.

Estava assim consumada uma das mais importantes doações de um privado a um museu de tutela municipal em Portugal e que, finalmente, deu ao Museu a dignidade que hoje lhe conhecemos.

Nesta altura, já o director do Museu era Manuel Sousa de Oliveira, que ganhara em 1951 um concurso nacional para o preenchimento do lugar, sobre quem falaremos no próximo número.

NR: o autor não acompanha o novo acordo ortográfico

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