Os 100 anos do Museu de Artes Decorativas de Viana 3/5

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Manuel Sousa Oliveira, o primeiro verdadeiro director do Museu (1951 – 1964)

Não é só um bom acervo que faz um Museu. É preciso também que os seus responsáveis saibam desenvolver actividades que o tornem vivo, como foi o caso de Manuel Sousa Oliveira 

Em 1951, estando o lugar de director do Museu vago, a Câmara decide abrir um concurso para suprir o lugar. O escolhido foi Manuel Sousa Oliveira, um açoriano  nascido nos Estados Unidos que se tinha formado em Ciências Histórico-Filosóficas e em Bibliotecas e Arquivos pela Universidade de Coimbra. Era também desportista e arqueólogo amador. Era, pois, um homem de fora da cidade, com um grande  cosmopolitismo, que trouxe uma enorme dinâmica ao Museu. 

Percebendo a importância da imprensa, deu uma entrevista ao Diário de Notícias no dia 2 de Novembro de 1952, onde divulgou, o programa expositivo que queria desenvolver no Museu: “1–Pré e Proto História; 2–Pintura antiga; 3–Escultura; 4–Sala de Viana (elementos para a História da cidade); 5–Arte regional (trajes, rendas, bordados e outras actividades artísticas populares); 6–Cerâmica; 7–Náutica; 8–Numismática; 9–Ferragens; 10–Mobiliário”. Notamos, pela primeira vez, uma preocupação de contar a história da cidade de uma forma cronológica e temática, onde a etnografia (as artes regionais e o traje) estaria presente. 

Entretanto, em 1954 deu-se a doação da colecção de Luís Augusto de Oliveira, que acabou por ser exposta a partir de 1960. O enorme peso da cerâmica neste legado alterou este discurso expositivo e provocou mesmo a vontade de criar em Viana um Museu Nacional de Cerâmica. O Museu ganhou então uma enorme dignidade e importância no panorama da museologia nacional.

Sousa de Oliveira envolveu-se em diversas actividades da cidade, organizando o cortejo histórico, realizando escavações arqueológicas no Largo da Almas, chegando mesmo a ser treinador de futebol do Sport Clube Vianense. Sob a sua direcção, o Museu ganhou um grande dinamismo. Promoveu uma aproximação à Arte Moderna, acolhendo a XX Missão Estética promovida pela Sociedade Nacional de Belas Artes em 1957, e organizou, em 1958 e 59, as I e II exposições de Arte Moderna com a presença de muitos artistas que viriam a ser consagrados. Reconhecendo a sua importância, o presidente da Fundação Gulbenkian viria mesmo a visitar o evento. 

Sousa de Oliveira organizou em 1960 uma exposição de Óleos e Desenhos de António Quadros. Acontece que alguns desenhos representavam homens nus, pelo que a moralidade da época considerou a exposição pornógrafa e que não podia ser vista por qualquer pessoa, sobretudo do sexo feminino, acabando por ser encerrada. Exporia também Aníbal Alcino e Júlio Resende.

Manuel Sousa Oliveira era um homem arrojado para a Viana provinciana dos anos 50, provocava a inveja de outros investigadores e não era figura querida das autoridades da cidade, pelo seu espírito independente e por ser opositor do Estado Novo, chegando a ser importunado por causa da assinatura de revistas francesas ligadas à esquerda. Acabou por ser alvo de um processo disciplinar, que o levou a desistir do cargo em 1964.

NR: O autor não acompanha o novo acordo ortográfico

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