Os 100 anos do Museu de Artes Decorativas de Viana  – 5/5

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A CERTIFICAÇÃO E A CRIAÇÃO DA DIVISÃO DE MUSEUS (1993 – 2023)

Com a construção da nova ala, o Museu passou a ter condições para cumprir as funções museológicas com maior qualidade e a ter um quadro de pessoal especializado.  Em 2000, o Instituto Português de Museus criou a Rede Portuguesa de Museus, como instrumento para certificar os museus nacionais que cumpriam os critérios de qualidade, tendo o processo de adesão do Museu terminado em 2002 pela mão de Salomé e Alberto Abreu. Viana ficava assim com dois museus a integrar o grupo dos mais prestigiados do país. 

Neste período o Museu mudou duas vezes de nome: de Museu Municipal para Museu de Arte e Arqueologia, em 2008 e, em 2012, para Museu de Artes Decorativas. Em 2009 o organigrama da Câmara Municipal criou a Divisão de Museus, de que o primeiro chefe foi João Alpuim Botelho, já com um mestrado em museologia. A divisão integrava o Museu de Artes Decorativas e o do Traje, com uma equipa de cerca de 20 funcionários.

 Então, o Museu de Artes Decorativas desenvolveu um trabalho de divulgação das suas colecções e também de aproximação à Arte Contemporânea. Com a exposição A Razão das Coisas. Peças de Júlio Pomar, com fotografias de Gérard Castello Lopes e José Manuel Rodrigues (2010), deu início a um protocolo com a Fundação Serralves, de que resultaram as exposições Livre Circulação, comissariada por João Fernandes, que foi provavelmente a mais importante exposição de Arte Contemporânea que se realizou em Viana, com  obras de Nikias Skapinakis, Pedro Cabrita Reis, Pedro Calapez, René Bertholo, Fernando Calhau, Helena Almeida, entre outros, ou Po-Ex Poesia Experimental Portuguesa (2011), com obras de Anna Hatherley, Emelo e Castro Ou Salette Tavares.

 No âmbito destas exposições foi criado o evento Museu Fora de Horas com a AISCA (Associação de Intervenção Social, Cultural e Artística) com um conjunto de actividades complementares às exposições (música ao vivo, projecções, instalações, performances), organizadas por Eduardo Sardinha e Margarida Gonçalves, entre outros, que abriram o Museu em horário noturno, atraindo um público jovem, menos frequentador de exposições tradicionais. Num destes eventos esteve presente o pintor Júlio Pomar. Também em 2010, foi criado um grupo de voluntárias que colaborou activamente na conservação e restauro de peças do museu, até à sua extinção, em 2013. Entretanto, por exigências da troika, em 2013 uma nova reorganização do organigrama municipal extinguiu a divisão de Museus, provocando a transferência de João Alpuim para o Museu Bordalo Pinheiro e ficando Salomé Abreu responsável pela área.

Nestes últimos anos o programa de exposições continuou a privilegiar temas vianenses, aceitando ceder a galeria para outras instituições realizarem os seus trabalhos: Memórias da Empresa de Pesca de Viana, organizada pelo CER e Junta de Freguesia de Monserrate; Rostos dos Estaleiros Navais – Fotografias de Egídio Santos (2104); O Tempo resgatado ao mar, apresentando as pirogas castrejas descobertas no rio Lima, organizada pelo Museu Nacional de Arqueologia (2019); Pintores da Nossa Cidade, 3 Séculos a pintar Viana, com textos de Porfirio Silva a ilustrar obras de José de Brito, Alberto de Souza, Luiz Filipe, Manuel Couto Viana, Carolino Ramos, António Alves, Araújo Soares, Álvaro Rocha, Juvenal Ramos, Élder Carvalho, Salvador Vieira, Fernanda Soares e Carolino Ramos – quatro décadas a desenhar Viana (2018); Exposição itinerante de Cerâmica portuguesa, pela Associação de Portuguesa de Cidades e Vilas Cerâmicas (2019); Recantos de Viana, Desenhos de George Loukomski; e Estuques e Estucadores de Viana do Castelo – entre o passado e o futuro, com catálogo coordenado por Gonçalo Vasconcelos Sousa, que recebeu um prémio APOM (2020); ou Um Novo Olhar, Artesanato contemporâneo inspirado no acervo do Museu (2023).

Foi também importante a reorganização da exposição de cerâmica, por Rui Carvalho, e a edição do catálogo A coleção de faiança do Museu de Artes Decorativas de Viana do Castelo, coordenado por Isabel Fernandes, com Alexandre Nobre Pais e Margarida Rebelo Correia, em 2015. Já em 2023 foram realizadas grandes obras de conservação do edifício, que reabriu com nova museografia, também por Rui Carvalho. 

O centenário do Museu foi assinalado com a colocação de uma cronologia ilustrada dos principais momentos da sua vida no corredor de entrada, no dia 23 de Agosto de 2023.

Aqui termina esta breve crónica dos primeiros cem anos de vida do Museu. Muito mais haveria a dizer sobre o seu funcionamento e a forma como foi servindo a comunidade vianense, mas isso fica para outro lugar, que não tenha a exiguidade de espaço de um jornal. Termino, então, com a pergunta: há quanto tempo não vai o leitor ao Museu de Artes Decorativas de Viana do Castelo?

NR: o autor não acompanha o novo acordo ortográfico

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