Os 100 anos do Museu de Artes Decorativas de Viana 

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Depois de um período de grande dinamismo, com a saída de Sousa d’Oliveira em 1964, o cargo de director do Museu foi extinto e foi assumido pelo vereador Artur Sandão, tendo o Museu perdido o dinamismo anterior.

Apenas em 1967 organizou as exposições Ourivesaria Portuguesa, que se assume como uma revisão da exposição de Arte Ornamental de 1897 e Iconografia Vianense, ambas com catálogo, e publicou um Guia do Museu de Viana do Castelo numa colecção de Bolso Arte em Portugal e O Móvel Pintado em Portugal, com referências às peças do Museu. Aliás, Sandão, que também era coleccionador, veio a legar as suas peças ao Ateneu Comercial do Porto, ignorando totalmente o Museu de Viana.

Foi também neste período, em 1966, que a biblioteca foi transferida para a Casa dos Alpuim, ficando as duas instituições definitivamente separadas. 

Sandão afastou-se em 1969 e o Museu atravessou outro período de abandono, ficando entregue apenas aos guardas Telmo Traila e depois Luís Lima e Antero Filgueiras. 

Neste período organizaram-se em Viana duas importantes exposições, que ignoraram o Museu. Foram elas: Cerâmicas das Fábricas do Distrito – Duzentos anos de Labor artístico, em 1970, por Ruben A. e Trajes de Entre Douro e Minho, em 1971, por Leandro Quintas Neves e Amadeu Costa.

Seguiu-se um período de abandono, que nem o 25 de Abril, com toda a efervescência cultural que a época viveu, interrompeu. Este abandono durou até que, entre 1980 e 82 foi contratado a meio tempo António Matos Reis, que regressaria em 1988, depois de estudar museologia em Itália. Pelo meio foi contratado Pedro Abreu Coutinho.

Matos Reis reorganizou a exposição, inventariou o espólio e promoveu a sua publicação.

O facto mais importante deste período e que viria a mudar o futuro do Museu foi a encomenda do projecto para um novo edifício ao arquitecto Luís Teles, que ocuparia parte do quintal e onde funcionaria uma galeria de exposições temporárias, um auditório, espaço de reservas e gabinetes de trabalho, que seria inaugurado em 1993, permitindo ao Museu ter, pela primeira vez um quadro de pessoal, com a contratação dos técnicos Suzana Branco e Ricardo Rodrigues.

Em 1993 foram apresentadas as primeiras exposições da nova galeria: Minho – desenhos de Manuel Couto Viana, por Matos Reis e S. Tiago nos Caminhos do Alto Minho, organizada em colaboração com Rui Faria Viana e Manuel Inácio Rocha. Seguiu-se uma programação expositiva com forte atenção às figuras: Carolino Ramos e Leandro Quintas Neves (1995), Abel Viana – O homem e a Obra, Manuel Filgueira, Fotógrafo de Viana (1996) Maria Manuela Couto Viana – Memórias do Alto Minho (1997) e António Manuel Couto Viana – Vida e Obra (1998). As exposições procuraram também mostrar a história da cidade: Últimos Veleiros do Porto de Viana (1993), A revolução dos transportes e a transformação da cidade entre 1870 e 1920 (1996). Entre 1990 e 93 Matos Reis acumulou o cargo de conservador do Museu com o de Director do Departamento de Desenvolvimento Económico, Social e Cultural. Acabou por se reformar, depois de uma relação atribulada com o executivo saído das eleições autárquicas. 

Reconhecendo a qualidade do acervo do Museu, várias exposições nacionais solicitaram o empréstimo de peças: em 1991 para O Triunfo do Barroco, no âmbito da Europália, em 97, A arte e o mar, na fundação Gulbenkian ou, no âmbito da Expo´98, para a exposição Memórias do Oriente, da Comissão Nacional dos Descobrimentos peças  como o  cofre tartaruga, mesa Indo portuguesa, oratório acharoado, ou a virgem e o menino Indo portuguesa. 

Em 1996, um dos descendentes da família Barbosa Maciel quis adquirir ao Museu um retrato a óleo do seu bisavô, João Barbosa Maciel. Tendo a Câmara respondido que não, ele acabou por propor uma troca por um pote de mel de loiça de Viana, peça muito rara e inexistente na colecção, acabando a troca por ser feita, deixando ambos os lados muito satisfeitos. 

Mostrando a importância que a cultura e a identidade ganharam nas preocupações municipais, a Câmara Municipal comprou o edifício do Banco de Portugal para aí instalar o Museu do Traje, o que aconteceria em 1997, com a exposição Traje Regional, organizada por Amadeu Costa, Joaquim Ribeiro e Graziela Lima. Até 1999 o Museu seria gerido pela Comissão de Festas. Também o navio hospital Gil Eanes foi adquirido em 1997, com o objectivo de ser transformado em Museu, 

O período coincidiu com uma mudança de geração e, em 1999, João Alpuim Botelho organizou com Ana Vasconcelos, da Fundação Gulbenkian, a exposição Sarah Affonso, Memórias de Viana, que foi a única homenagem nacional à artista no centenário do nascimento e teve honras de inauguração pelo Presidente da República, Jorge Sampaio.

NR: o autor não acompanha o novo acordo ortográfico

João Alpuim Botelho

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