Só recordamos que a vida é curta, que os anos rolam vertiginosamente, quando a velhice se aproxima, ou caímos seriamente enfermos.
Acreditamos que a vida não tem fim. Mesmo ao entrarmos na chamada terceira idade, queremos pensar que a morte só abraça os outros, já que nós – assim desejamos, – somos eternos… ou quase…
Mas, pouco a pouco, lentamente, ano após ano, quase sem sentir, avizinha-se o fim da jornada.
Passamos a vida a cuidar – da nossa saúde, da nossa carreira profissional, da satisfação dos nossos desejos; olvidando que para ser feliz, é mister cuidar dos outros.
Adiamos sempre para amanhã – que nunca chega, – para conviver, abraçar o amigo, o familiar, porque não temos tempo… ou por comodismo…
E para amanhã ficam os telefonemas, as conversas, as horas de convívio com aqueles que nos querem bem.
De longe a longe, dizemos-lhes: – “Havemos de combinar…”, mas sabemos que o amanhã nunca chegará…
E deste jeito, quantos abraços deixamos de dar? Quantos elogios ficam por fazer?
Mas, em hora inesperada, chega a doença, surgem as limitações, e então cogitamos: “Por que não disse o que ia na alma?!” Por que não abracei meus irmãos e a causa que me era querida?!”
Adiamos sempre: “Amanhã vou fazer isto.”; “Hei-de dedicar-me à música. Quando estiver aposentado, vou pintar…”;”Servir uma causa humanitária…” Sempre para amanhã…Sempre para o futuro, que nunca chegará…
Vivemos mergulhados num sonho. Só muito tarde é que acordamos, estupefactos; e verificamos, com espanto, que nunca vivemos… As oportunidades e a saúde passaram… e o tempo não volta; o tempo nunca volta!…
Lamentamos, então: os anos perdidos; a juventude que passou…; e o que passou… já mais tornará a passar…
Então, já não vamos a tempo de dizer: quanto amávamos a nossa mãe; a nossa irmã; aqueles que connosco repartiram a vida – os amigos, os colegas de trabalho, os companheiros de jornada que ao longo da vida se cruzaram connosco.
Então lamentamos: Os abraços que não demos. Os beijos que deixamos de dar. Os afectos que tornariam felizes, os que aguardavam com ânsia os nossos carinhos… Mas é tarde… Muito tarde… Porque o tempo é como águas do rio, nunca passam pelo mesmo lugar…
Humberto Pinho da Silva
Foto: “TV Tambaú”