Os beijos apaixonados de Jesus

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Beijos apaixonados de Jesus? A quem os deu? Isso é verdade? 

Estas três perguntas, e tantas outras mais, serão postas, quase de certeza, por uma grande parte de hipotéticos leitores, interessados nestes assuntos do cristianismo/catolicismo, sobretudo leitores e leitoras da minha geração ou perto dela. E porquê? Porque a figura histórica de Jesus Cristo foi caracterizada comumente pelo seguinte: um celibatário, um platónico, um desinteressado das coisas da vida, sóbrio na comida e bebida, nem amado e nem amando alguém, abstendo-se inteiramente dos mais naturais prazeres, apesar de ter apenas cerca de 30 anos quando iniciou a sua vida pública. Portanto, um homem em plena pujança física e mental. E, obviamente, sexual.

E isto foi pregado incessantemente, acabando por ser imposto, após três séculos de cristianismo e, ainda, até aos nossos dias. E, se havia documentos escritos (em papiro, naqueles tempos antigos), havia que descredibilizá-los primeiro e, até mesmo, destruí-los pelo fogo. 

E assim aconteceu no Primeiro Concílio de Niceia, uma cidade da antiga Cilícia (hoje com o nome de Iznik, Turquia, perto de Istambul). Esse concílio foi convocado e presidido pelo Imperador romano Constantino, quando o cristianismo já era aceite no Império Romano, sem perseguições nem martírios, portanto. Nesse concílio (ano 325) entre muitas decisões de carácter religioso, foram escolhidos como verdadeiros e “inspirados por Deus”, apenas 4 evangelhos (Mateus, Marco, Lucas e João), entre mais de 80, cujas pouquíssimas cópias manuscritas circulavam entre os fiéis cristãos, pelo que se usava a leitura pública dos mesmos ou, simplesmente, o mero comentário, de boca em boca. Mas, os ditos evangelhos que a hierarquia da cristandade mais temia eram os Evangelhos Gnósticos. Todos os restantes evangelhos (cerca de 80, mas há quem refira 100) foram considerados “apócrifos”, ou seja, não verdadeiros. Só que – lá está, Deus prega cada partida … – foi encontrada numa cidade egípcia (Nag Hammadi) uma grande “biblioteca” guardada em ânforas, com os escritos parcialmente danificados, às vezes só algumas palavras. Depois de tratados e traduzidos por especialistas, começaram a ser editados em várias línguas modernas. Esse achado foi no ano de 1945 e, só a partir deste Século XXI, começaram a aparecer os tais 80/100 Evangelhos Apócrifos, designadamente em português. A primeira edição (Ésquilo) que comprei e li (na altura, muito ao de leve, confesso) foi em 2005. Apareceram, entretanto, outras edições, designadamente a edição do Professor Universitário Frederico Lourenço, Mas na internet não faltam outras edições. Esses Evangelhos Apócrifos, principalmente os Gnósticos, referem opiniões ou doutrinas, mas também factos – repito – factos históricos.  E se as doutrinas podem e devem ser discutidas, porque cada pessoa tem a sua opinião, os factos devem ser aceites depois de, no mínimo, averiguados quanto à sua autenticidade O jornalista e escritor espanhol Juan Arias é autor de dois livros interessantes sobre estes assuntos.

E o que aconteceu, na verdade? A hierarquia da Igreja Cristã/Católica, quanto a esses textos que classificou de “não autênticos”, aproveitou uns factos que, provavelmente, lhe convinham mas, imperdoavelmente, omitiu outros importantíssimos. Por exemplo: foi pelos tais “apócrifos” que se soube dos nomes dos pais de Maria (a mãe de Jesus), chamados Ana e Joaquim e também os nomes dos 3 Reis Magos, Melchior, Gaspar e Baltazar. Mas, incrivelmente, creio que pelos mesmos motivos de conveniência doutrinal, nunca referiu a relação íntima de Jesus e Maria Madalena, de Magdala. Ora, esses textos estiveram escondidos durante cerca de 1.500 anos!!! 

E, para já, sem mais delongas, aqui vão algumas (apenas algumas …) citações:

– “A sabedoria denominada “estéril” é a mãe (dos) anjos. E a companheira do (Salvador é) Maria Madalena. O (Salvador) amava-a mais do que a todos os discípulos e beijava-a frequentemente na (boca)” (81) (extraído do evangelho de Filipe)

– “Pedro disse a Maria (Madalena): Irmã, sabemos que o Salvador te amava mais do que qualquer outra mulher. Conta-nos as palavras do Salvador, as que te lembras, aquelas que só tu sabes e nós nem ouvimos”. Maria Madalena respondeu dizendo:” Esclarecerei a vós o que está oculto” (extraído do Evangelho de Maria Madalena)

Assim, Jesus que encarnou como qualquer humano (uma decisão tomada no referido concílio de Niceia), era heterossexual (amava as mulheres, embora a preferida tivesse sido a Maria Madalena), tinha muitas conversas só com a “companheira” Madalena e não com os outros apóstolos – ler o evangelho apócrifo de Maria Madalena, aliás é curto – e, não foi por acaso, que Santo Agostinho lhe atribuiu o título de “Apóstola dos Apóstolos”.

Manuel José Ribeiro 

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