Um dos momentos mais indiscritíveis e emocionantes que nos impele a assistir a obras cinematográficas refere-se, categoricamente, ao período de Festas de final de ano, principalmente no que concerne àqueles dias consignados à efeméride do Natal, 24 e 25 de dezembro. Por uma simples razão, porque os filmes criteriosamente selecionados para esse fim divulgam mensagens de tolerância, esperança e estima pelo próximo, produzindo efeitos para a salutar união familiar, que nunca se deve esgotar após este período.
Tendo visionado ao longo minha vida muitos filmes em conformidade com a transcendentalidade dessa celebração, pude constatar a importância significativa de três filmes icónicos e marcantes, sendo que os dois primeiros me acompanharam na minha infância, acicatando consideravelmente o meu entusiasmo pelas peripécias natalícias. Imbuído nesse propósito, começo pelo enredo que passou com mais frequência na televisão, o clássico “Musica no Coração” de 1965. Amplamente conhecido, este filme retrata as vicissitudes da bela e fascinante Maria, conseguindo, graças ao seu jeito singelo e irradiante, encantar o austero Coronel Von Trapp e os seus sete filhos traquinas, trazendo ao lar uma felicidade sem paralelo, isto a suceder-se num ambiente tétrico dos anos 30, em que a Áustria sujeitava-se ao domínio instituído pelos vizinhos Nazis. Fazendo jus ao cariz estonteante de Maria, o filme evidencia temas musicais divinais, além de mostrar paisagens fabulosas, dando azo a uma combinação profícua entre a liberdade e a natureza. Não obstante as críticas que eu ouvi, devido ao número excessivo de vezes que esta narrativa adornou o quadro natalício, sempre achei imprescindível a sua exibição, por transmitir uma visão purificadora e edificante.
O segundo filme que chamo à liça é o egrégio argumento “Um Conto de Natal” de Charles Dickens, tendo justamente verificado a sua exibição em diversas versões e formatos. Tendo como pano de fundo a personagem taciturna e somítica de Ebenezer Scrooge, um homem que abomina o ambiente jubiloso do Natal, este vê-se surpreendentemente acossado por três fantasmas que o visitam durante a noite, remetendo-lhe o seu passado, o presente e o inóspito futuro. Siderado com aqueles pesadelos, que mexem clamorosamente com os seus sentimentos, Scrooge muda radicalmente a sua perceção sobre o Natal, juntando-se, com otimismo e ternura, aos seus entes queridos, aproveitando como nunca as virtualidades dessa cerimónia. Esta história, contendo estes pressupostos, incentivou, quase de certeza, a hipotética chance de uma reconciliação familiar, elevando e acentuando os valores mais nobres.
Por último, destaco os populares filmes da saga “Sozinho em Casa”, aludindo especificamente à narrativa de 1990, que iniciou essa senda de sucesso. Este enredo, que se pontificou como uma entretida comédia, relata a aventura dum miúdo de oito anos que ficou momentaneamente sozinho na sua casa nas férias de Natal, grotescamente esquecido pela sua numerosa família. Apercebendo-se que a sua habitação estás prestes a ser assaltada por dois energúmenos, Kevin prepara uma série de ratoeiras, que deixam de candeias às avessas os invasores, provocando o riso espontâneo do espectador. Um filme que, certamente, estimula o bom humor e a alegria, propiciando a todos, um Natal cheio de boa disposição.
Alcino Pereira