Os impostos que pagamos

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A. Lobo de Carvalho

Como todos nos recordamos – já que ficou marcado de forma indelével na nossa memória – o país viveu nos últimos anos uma gravíssima crise financeira, económica e social, quase entrando em colapso, não fosse a ajuda internacional requerida junto das instâncias competentes. Os efeitos dessa crise ainda não desapareceram e teremos de continuar a pagar por muitos anos a dívida então contraída.

Espanta-me que não se tenha aprendido a ser-se mais comedido, seja nos gastos das empresas, seja sobretudo nos gastos das famílias, havendo indicadores que apontam para nova crise à vista, até porque as guerras comerciais entre países poderosos têm reflexos a nível global e as economias já tiveram dias melhores para o enfrentamento das crises.

O nosso pequeno país, com uma economia débil e muito dependente do exterior, está sempre no fio da navalha, porque os recursos são poucos. Há, por isso, necessidade de os gerir com muita inteligência e probidade, começando por cortar pela raiz muitos gastos do Estado que mais não servem do que alimentar administrações incompetentes e desqualificadas.

É neste contexto que não se percebe como o Estado continua a financiar um banco que faliu e mudou de nome, que até foi vendido a um grupo estrangeiro e que continua a apresentar contas negativas. Desconhece-se que tipo de acordo foi delineado para que o erário público esteja sempre de portas abertas para um banco que nada constrói, mas antes é um sorvedouro de dinheiros públicos, continuando a acumular prejuízos de muitos milhões. Será que este banco faz mesmo falta ao sistema financeiro nacional? Se só está a dar prejuízos, isso significa que não inspira confiança nos cidadãos, e então mais vale encerrar a sua atvidade, deixando o Estado de ter de o financiar, empregando, em contrapartida, esses recursos na resolução de tantos outros problemas de índole social que tanto necessitam do apoio, como o são os depositantes que ficaram espoliados das poupanças de toda uma vida.

Da mesma forma, não se entende como é que uma clínica privada, que já foi endeusada pela sua actividade dentária e constituiu referência em todo o país e mesmo no estrangeiro, se deixou afogar em dívidas, correndo o risco do seu encerramento! Eu entendo que, se chegou a esta situação de pré-falência, tal só aconteceu por má gestão e o Estado não tem de conceder perdão de milhões através do não pagamento de impostos. Se não o faz aos cidadãos particulares, mas antes os ameaça com penhoras por um qualquer mísero atraso, por que razão adopta um comportamento benévolo neste caso?

A TAP continua a ser outro sorvedouro de dinheiro dos nossos impostos com prejuízos que se acumulam, mesmo depois de ter sido privatizada e, de novo, ter regressado à esfera pública.

Mesmo em situação complicada, como aquela em que se encontra, a sua administração continua, no entanto, de forma incompreensível, a premiar os gestores com centenas de milhares de euros, quando deveria ser exactamente o contrário, isto é, cortar-lhes na sua retribuição mensal, uma vez que não mostram ser competentes.

Enquanto o Estado continuar a ser uma manjedoura que alimenta sempre os mesmos interesseiros, não pode haver justiça social, não acabará a pobreza em toda a sua dimensão, os serviços públicos continuarão a degradar-se e outros impostos terão de ser criados. Tem de haver moralidade no Estado, contenção nos gastos e justiça na redistribuição dos recursos, sob pena de voltarmos a enfrentar uma profunda crise.

Sou, ao contrário de muitos, um apoiante dos impostos indirectos, na medida em que incidem sobre quem mais consome, e não sobre os mesmos de sempre, ou seja, a classe média, que é a que mais tem sofrido ao longo dos últimos anos com os impostos directos. Ao mesmo tempo que me parece uma opção mais justa por parte do governo, é também uma forma de incentivo à poupança, já que promove a contenção de despesas muitas vezes desnecessárias. Mantenho a opinião de que o novo governo a formar das eleições ontem realizadas dê seguimento a esta linha de orientação, por me parecer a mais equitativa.

Foto: Jornal de Negócios

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