Os paradigmas da saúde

Gonçalo Fagundes Meira
Gonçalo Fagundes Meira

A saúde é um dos mais delicados problemas com que Portugal se debate na atualidade. Não era assim no tempo do Estado Novo. Nessa época, a saúde nunca foi questão porque para a esmagadora maioria da população ela apenas não existia. No mundo rural, em boa medida, as populações nasciam e morriam sem que fossem vistas pelo médico ou alguma vez fossem medicadas. “Obrigatório”, in extremis, era a presença do Abade junto dos moribundos para que estes, confortados na alma, partissem sossegadamente em direção ao paraíso desejado.

Felizmente os tempos mudaram e a cultura da saúde, ao nível comportamental e curativo, foi-se impondo naturalmente. Os indicadores falam por si. Os profissionais da área, que pelo que vamos ouvindo são ainda insuficientes para as necessidades, estão em permanente crescimento. Em 1960 havia no país 79,8 médicos para 100.000 habitantes, mas em 2018 eram 521,8. Já os enfermeiros, no mesmo espaço de tempo e para a mesma população, saltaram de 107,6 para 716,2. Não é por acaso que a esperança média de vida em Portugal, que era de 64 anos em 1960, esteja prestes a atingir os 85. Dai que hoje, e bem, ninguém abdique de ser minimamente respeitado em questões de saúde.

Todavia, esta realidade coloca-nos problemas novos, especialmente ao nível de custos. Em 1980 o Serviço Nacional de Saúde custava ao erário público 219,1 milhões de euros, mas em 2017 já tinha saltado para 9.693,5 milhões (cresceu 44 vezes). Por cidadão, em 2000 gastava-se 1046,5 euros, mas em 2018 o custo já ia em 1783,9 (quase o dobro em 18 anos). Em percentagem do PIB gastava-se 8,4% em 2000, mas em 2018 o valor era de 9,0%.

Com este quadro, era obrigatório dispor de uma economia pujante de forma a acudir a uma situação que, está provado, impõe diariamente maior suporte financeiro. Mas não temos. Resta-nos, realisticamente, apostar no uso de boas práticas, já que a saúde é vital numa sociedade de valores. Gritar na praça pública com cada um a culpar o outro de responsabilidades, banalizar o insulto, opinar a esmo e sem sentido nas redes sociais e ter tantos outros comportamentos pouco atinados em nada ajuda. Os agentes da política e da saúde, as forças vivas da sociedade e os cidadãos em geral têm que criar entendimentos mínimos sobre procedimentos e objetivos, no sentido de que a nossa saúde mantenha os valores de qualidade que afortunadamente ainda vai tendo.

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*Indicadores da Pordata

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