Otto Dix (Alemanha, 1891 – 1969) – “Jogadores de Skat (cartas)”, Óleo sobre Tela, Ano de 1920

Américo Carneiro
Américo Carneiro

Quando rebentou a I Guerra Mundial (1914 – 18), tinha Otto Dix 22 anos. Nascido na cidade de Gera, em 1891, Otto Dix frequentou a escola local e aí concluiu o ensino básico. Com dez anos apenas, começou a trabalhar e teve diversas ocupações, e só aos dezoito anos ingressou na Escola de Artes e Ofícios de Dresden. Para ajudar a custear os estudos, começou a aceitar encomendas, sobretudo na área do Retrato, ganhando alguma procura e, sobretudo, confiança e experiência na figuração humana.

Até que, com o detonar da Guerra, ele se apresenta como voluntário, faz a instrução militar e é, depois, colocado num Regimento de Artilharia de Campo em Dresden. Destacado nos finais de 1915 para uma Unidade de Metralhadoras, vai combater para a Frente Ocidental, onde foi ferido várias vezes e mostrou um comportamento heróico que, mais tarde, em 1918, haveria de lhe granjear a Cruz de Ferro, a mais alta condecoração militar alemã. Presente na região do Somme durante a grande ofensiva dos Aliados, em 1917 desloca-se para a Frente Oriental e após a negociação da paz com a Rússia, regressa a França e participa na Grande Ofensiva de Primavera. Em 1918, no final da Grande Guerra, Otto Dix é um Herói de Guerra, condecorado e com louvores, promovido a Sargento- Major.

É no pós-guerra que os horrores inomináveis que havia vivido e testemunhado nas trincheiras e pantanais despertam e começam, naturalmente, a assombrar a vida e a obra de Otto Dix. Não seria o último a ter de viver e reviver os traumas da guerra e do fratricídio generalizado (V., p.f., o artigo “V. Goya”, na rúbrica “Amados Quadros” d`”A Aurora do Lima” N.º 43, Ano 167, de 23.12.2021).

Otto Dix revolta-se com a situação de abandono e desprezo a que foram votados os mutilados de guerra, assim como com a situação dos enjeitados da “república de Weimar”, mendigos, alcoólicos, prostitutas e demais marginalizados, e que geram dentro de si uma grande revolta e a necessidade premente de usar a sua Arte para chocar os públicos, que lhe pareciam insensíveis, anestesiados, submissos, impotentes.

E, assim, logo em 1920, pinta dois dos principais quadros desta fase (que, por muitos críticos de arte é designada como “dadaísta”):- O “Prager Strasse” e este “Jogadores de Skat (um jogo de cartas)”, que agora se oferece à vossa apreciação. 

Em “Jogadores de Skat”, Otto Dix denuncia as horrendas mutilações com as quais muitos jovens, seus camaradas de armas e de trincheira, haviam sobrevivido àquele inferno. Após a Guerra e abandonados à sua sorte macabra, eles teriam que sobreviver desse por onde desse, sem braços, sem pernas, desfigurados e, por vezes, com pesadas próteses metálicas ou de madeira. Se, por um lado, ele trata as figuras do “Jogadores de Skat” com certos requintes de crueldade e de exagero que os faz aproximar da Caricatura, por outro, lança já mão da Colagem (das folhas de jornal, ao fundo) como expediente que serve para nos chamar à realidade. E que realidade, meu Deus, tão dura e tão humana!…

N.R. – O Autor não segue as normas do novo Acordo Ortográfico.

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