Para onde está a caminhar?

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Natacha Cabral

Era uma vez um pedinte bem vestido que passava na rua com um andar meio indeciso, e um mestre que por ali andava cruzou o seu caminho e perguntou-lhe: 

“- Estás aí?

– Nem por isso.

– Sabes ao menos para onde caminhas?

– Para todo o lado, e para lado nenhum.

– Então para que caminhas de todo?” 

Talvez esta seja a pergunta para um milhão de euros, e talvez muito poucos saibam a resposta pois preferem focar-se no dinheiro ao invés de saberem para onde realmente vão. E quando digo saberem, incluo tudo e todos, porque nunca a humanidade se pareceu tão perdida como se parece hoje. 

A verdade é que todas as gerações tiveram o seu quebra-cabeças. Debate-se muito sobre aquilo que foi e o que é, sendo que não vejo interesse justificável em perceber qual a melhor ou a pior época para se viver. O que foi, já não mais será, resta-nos apenas aquilo que é. Se antigamente faltava a liderança ou se sofria pelo excesso de poder não fundamentado, hoje sofre-se pelo excesso de liberdade e pela ganância descomedida. Logo, “os males dividem-se pelas aldeias”. 

A grande curiosidade está em que, antigamente, ninguém queria ser visto, hoje, todo mundo quer ser reconhecido. Creio haver aqui uma necessidade clara de se fazer as pazes com o passado e encontrar um equilíbrio sobre a forma de se estar no presente. 

Nunca se foi tão livre como hoje. Está tudo ao dispor — amor, educação, tecnologia, lazer, saúde e bem-estar, livre arbítrio. É só escolher. Porém, vê-se tanta gente presa em si mesma. Adormecida nas suas ideias. Refém dos seus próprios medos. Ausente de espírito e de animosidade. Contorcida pelas exigências de 1001 pessoas e coisas diferentes. 

Não admira, pois, a dificuldade do povo em se encontrar, se afirmar. As possibilidades são imensas, mas as dúvidas também. 

É preciso tomarmos atenção. É crucial que sejamos capazes de nos sentar na poltrona do silêncio para percebermos o nosso lugar por cá. É vital erguer a cabeça e dirigir o olhar em frente, contrariando cada vez mais a tendência de olhar para baixo e para o próprio umbigo. 

Estamos todos fartos de histórias de sucesso, de heróis momentâneos e de promessas enganadoras. 

Estamos sedentos de histórias de amor, de simplicidade, com carácter e essência e sobretudo, com razão de ser para um bem comum. 

Chega de fazer de conta que ninguém importa, que o mundo vai acabar amanhã, ou que o tempo dura para sempre. Nada dura para sempre, e não há certezas de nada por nós pensado. A única certeza óbvia é o término da vida, e assim talvez fosse urgente prestar atenção mais vezes, estarmos mais vezes, sermos mais vezes. 

E com isto convido o leitor a refletir: faz ideia por onde e para onde está a caminhar? 

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