Para quê passar a vida a correr?

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Ocupamos de tal modo o tempo, que passamos a vida com a sensação de que ele não chega para nada.

Para quê tanta pressa, tanta necessidade de fazer tantas coisas? Onde é que isto acaba por nos levar? Chegar a tempo, ganhar tempo, mesmo sem saber de quê nem para quê.

Os antigos, antes da electricidade, guiavam-se pela luz do sol, e não por pressões exteriores obrigados a cumprir. O dia era mais vivido enquanto tal e a noite mais sentida como noite. Há quem se irrite com o tempo que “perde a dormir”, “a amar”, “a saborear” o sol e a sombra num jardim.

É esta a vida que queremos? Levamos trabalho para casa, na hora do sossego, damos uma vista de olhos ao que ficou por fazer, sem perder o jornal da noite nem os relatos da vida dos filhos. O tempo não se perde nem se ganha. Ele simplesmente passa. A única coisa que devemos fazer é aproveitá-lo, gozá-lo, respirá-lo, vivê-lo. Nunca ter culpabilidade de termos perdido tempo, com a sensação de falta, um vazio que no fundo nos habita, andando sempre a correr e a lutar.

Lutando contra ele, o tempo aparece-nos como inimigo, como se nos perseguisse. Cada segundo carregado de ansiedade. Somos limitados e temos que o aceitar. A contrapartida é andarmos sempre insatisfeitos e frustrados.

Temos que aceitar as nossas limitações a que o confronto com o tempo nos obriga. Só a andar devagar é que podemos ir reconhecendo onde se acha o nosso porto de abrigo, e que chegaremos lá intactos, deixando pelo caminho todos os fardos inúteis. 

A pressa de chegar, a ânsia de fazer, a obsessão de conseguir, ultrapassando etapas, apoiando-nos em utopias, satisfazendo-nos com ilusões, afastamo-nos daquilo que é a nossa essência. 

Temos que estabelecer prioridades. Saber o que é mais importante. Ter objetivos atingíveis e pôr de lado os inatingíveis. Deitá-los ao lixo! Objetivos reais têm de ser atingíveis e compatíveis.

Temos que ter um plano diário, períodos de sossego, e saber delegar nos outros.

O essencial leva pouco tempo e o acessório leva muito.

 

Filomena Freitas

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