Passeando pelo burgo…

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O assunto que me leva a escrever este apontamento é extemporâneo, mas, apesar disso, entendi que o deveria fazer já que, no meu modesto entender, é exemplar pela negativa.

O edifício que se situa no Passeio das Mordomas, atualmente uma residência sénior, designada por Hotel Geriátrico, que articula, à sua direita, com um palacete que, imagino, terá sido construído ainda no século dezanove, é um exemplo acabado do que não se deve fazer no centro histórico da cidade.

O centro da cidade tem um estilo arquitetónico muito característico e dominante que deveria, no que quer que se edifique ou intervenha, ser rigorosamente respeitado ou, no mínimo, não ser flagrantemente violado.

O edifício em causa, pelo acabamento exterior que tem, num estilo modernista, com janelas meio tapadas pelo revestimento do prédio que é feito com lajes de granito não polido que está já a ficar esverdeado pelo caruncho, o que aliás é comum neste tipo de revestimento, não se coaduna de todo com os que lhe são contíguos nem com toda a zona envolvente. É um edifício que, pelo seu acabamento arquitetónico, poderia ficar bem enquadrado em inúmeros locais, mas ali nunca.  

Na arquitetura, tenho ouvido dizer que há uma corrente que defende que esta não se deve coibir de suscitar a polémica, como forma de afirmação. Não subscrevo esta tese e, infelizmente, há mais exemplos de mau gosto na cidade que desrespeitam por completo a arquitetura da zona envolvente, degradando-a sob o ponto de vista paisagístico. Por vezes, dá para nos irmos rendendo e até habituando ao que é diferente. Para mim o Hotel Axis é um exemplo. Custou-me, mas agora até o aprecio. Noutras não. 

Vejamos outro caso. O edifício construído frente à doca, com o fim de alojar os residentes do “Coutinho”, aparentemente em betão, está agora a ficar também todo carunchento. Na altura, antes de ser edificado, neste prestigiado jornal, alguém publicou uma montagem fotográfica com o impacto negativo do mesmo visto do Cabedelo, que não viria a ser desmentida com a sua concretização. Na minha opinião, é mais um mau exemplo do atrás referido. Por isso, alguém lhe chamou o “Coutinho deitado”. Felizmente, no edifício que está a ser construído ao lado, no espaço que foi dos antigos armazéns da Quimigal, o acabamento exterior é de melhor gosto e menos suscetível de deterioração. 

A arquitetura não pode destinar-se só a supostos eruditos e controversos apreciadores da mesma, mas também ao vulgar cidadão, como eu, que tem o direito de a criticar. A título de curiosidade, sei que em Londres, e não sei se em todo o UK, qualquer edificação tem que contar com a concordância dos proprietários dos prédios confrontantes, sob pena de não ser viabilizada. Bom seria que, no futuro, edificações com o acabamento dos que estão na origem deste apontamento, não voltassem a repetir-se. É apenas a minha modesta opinião, obviamente.

João Santos 

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