Teve azar o dirigente da Federação Espanhola de Futebol, Luís Rubiales, por ter beijado na boca, publicamente, uma das jogadoras da selecção do seu país após a conquista do campeonato do mundo de futebol feminino. Num gesto arrebatador de felicidade incontida, segurou-lhe a cabeça entre as duas mãos e pregou-lhe um grande beijo na boca, sem que a jogadora o afastasse ou, sequer, tivesse esboçado qualquer gesto nesse sentido. Foi, como se viu, um beijo absolutamente consentido e, atrevo-me a dizer, não teria sido a primeira vez. Outra mulher, se fosse forçada a uma situação destas, ter-lhe-ia dado um estaladão na cara, mas a jogadora em causa assim não agiu, o que significa que não ficou ofendida e gostou. Convenhamos que o sr. Rubiales, pelo menos, tem bom gosto, o de um homem que aprecia o sexo oposto, não estando em linha com os novos conceitos de género que nos querem impingir.
Mas esta atitude foi entendida como um pecado mortal e um escândalo nacional, por toda uma sociedade hipócrita que se mostrou chocada com um gesto tão banal nos dias de hoje, em que a liberdade praticamente não tem limites, incluindo a liberdade sexual. Provavelmente, se um beijo neste contexto tivesse acontecido entre duas lésbicas ou dois homossexuais, até teria sido aplaudido, e a organização que apoia e promove este tipo de relacionamento teria motivos para promover mais um apalhaçado “desfile de orgulho”, porque o que está na moda é ser diferente!
O futebol feminino – já o escrevi e volto a referir – não passa de um exibicionismo sexista sem qualquer interesse desportivo. Mas o facto é que vai ganhando raízes por ser praticado por raparigas que provocam, na generalidade dos espectadores não só um gozo especial, como também comentários expressivamente sexistas. Não serve para mais nada, porque nada traz de novo ao futebol que se conhece, mas, como é um desporto em crescendo que começa a render muitos milhões de euros, nada melhor do que valorizá-lo e criar oportunidades para à sua volta gravitarem mais parasitas.
O eco deste beijo na boca soou por todo o mundo, mobilizou políticos, jornalistas, televisões, comentadores, desportistas, governos e, pasme-se, até órgãos da União Europeia! O Ministério Público espanhol chegou ao cúmulo de processar o sr. Luís Rubiales por agressão sexual. Pergunto: mas será que o beijo na boca constitui, à partida, uma agressão sexual? Será que no corpo humano o sexo mudou de sítio?… Poderá o beijo na boca gerar uma gravidez indesejada?… Deixem-se de hipocrisias os teóricos e seguidores do feminismo radical. Assédio sexual serão provocações verbais, comportamentos abusivos, atitudes atrevidas e outro tipo de manifestações íntimas forçadas que visem o acto sexual. Ora não foi visível que o beijo a que nos vimos referindo preencha o conceito de agressão sexual, pelo que me parece o entendimento mais estapafúrdio que já vi e que revela, além de um puritanismo idiota, um radicalismo sem nexo.
O que vimos na TV foi que o beijo na boca da jogadora, por iniciativa do Sr. Rubiales, não traduziu mais que um impulso dos momentos de êxtase que estavam a viver pela conquista do campeonato do mundo, assim como não teve nada a ver com agressão sexual. Nem a situação do momento era adequada para intimidades, dada a confusão decorrente da presença de tantas pessoas, nem havia tempo e disposição para embarcar em desejos ou libertar pulsões. Traduziu, isso sim, o carinho e a alegria de um dirigente para com uma atleta, atleta que viria a reagir mais tarde por a isso ser obrigada com a submissão ao conceito do politicamente correcto e para não sofrer represálias na sua carreira desportiva.
Continuo convicto que o futebol no feminino é uma farsa e que as raparigas não têm o corpo preparado para o enorme esforço físico que são obrigadas a despender. O corpo feminino é algo especial que deve ser protegido da violência física e tratado como as pétalas de uma flor, porque é do corpo feminino que nascem os seres humanos.
No momento em que escrevo estas linhas, mais uma vez a hipocrisia venceu e o radicalismo sexista ganhou novo fôlego. O sr. Rubiales foi suspenso do seu cargo de dirigente do futebol e espoliado de todos os seus vencimentos e outras regalias que o cargo lhe conferia, e tem agora de lutar contra o falso puritanismo de um exército de hipócritas. No meu ponto de vista isso não é justiça, mas uma violência e um radicalismo sem precedentes contra um homem que não ofendeu ninguém.
Fico admirado como a sociedade espanhola, tão aberta às liberdades individuais e às duvidosas formas de relacionamento social, se deixar manipular tão facilmente por um radicalismo estúpido, condenando na praça pública um homem que apenas expressou a sua alegria pela conquista de um troféu mundial, através de um superficial beijo na boca de uma atleta, com o seu consentimento. Que mal traz ao mundo?