Ponte de Lima em finais do último quartel de Oitocentos

Rui Maia
Rui Maia

Terra verde, esperançosa, como as águas que rochas galgam, n’uma corrente forçosa. Oh Lima, a quantas vidas deste o ser, saciando a sua sede, para não as ver morrer? A tua fúria, levada no ventre, de uma descarga lá de Espanha, num repente. As cheias, vistas por entre ameias, do que resta do medievo, d’uma guerra finda, a sorte, flor em trevo. As Torres, delas já pouco resta, senão deitar a mão na testa, lembrando saudoso património. As barcas, navegavam no rio, passando gente a fio, de lado para lado. O Água-Arriba, depois de tanto tempo, transportando na barriga, os tendeiros, os que na Feira de Ponte vendiam, ganhando seus dinheiros. Oh Vila, que seis portas tinhas, do entrar e do sair, do Mundo a que pertencias, sonhando no porvir. A Torre de S. Paulo e a Torre da Cadeia, ainda fazem hoje parte dessa tua bela teia. A malha urbana, entrelaçado pelo tempo, é um quadro pitoresco, d’ entre o belo e o burlesco. O palco, anciano, vestido de granito, encerra em suas paredes, as vozes, o grito. D’um tempo, um tempo tardego, que aos Reis expurgou, sem medo. A aurora de 1789, foi coice como bode, no estômago do clero. Os raios no Lima luminoso, d’um conservador sagrado povo, haveriam de rasgar. Muralhas, Torres, feudos, que os faziam cansar. O Mundo, haveria de dar o salto mortal, sem ninguém levar a mal, por mais vil que fosse o pecado. Livre, via-se livre, desacorrentado, o purgatório ia ardendo, ia sendo queimado. A água do rio acoita o fogo, d’um peso herdado pelo tempo, um castigo, um martírio, que manietava o pensamento. Assim, é a vila de Ponte, um postal que se transfigura, entre o rio e o horizonte. Por ela sonha quem quer, se Deus lhe der tempo. 

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