Simples: porque nada é eterno, porque tudo nasce, vive e morre. Nada existe para sempre, por mais que gostemos das variadas coisas que acabam. O café Caravela fechou portas e nas redes sociais deplorou-se o facto, pela saudade que deixa, porque era local de encontro e de tertúlia, onde as amizades se estabeleciam; porque, entre outras, tem uma história ainda viva na memória de muitos vianenses, que assentava na rivalidade dos seus frequentadores (enquanto café Bar e Caravela, dois espaços independentes) com os clientes do café Américo, localizado quase em frente (encerrou em 1985), os primeiros mais conservadores e mais alinhados com o Estado Novo, os segundos vistos como oposicionistas ao sistema. Pois, e o Américo, centro de negócios e vida intensa, especialmente à sexta-feira, também deixou saudades e, quando fechou portas, dele muito se falou e escreveu, mas como tantos, seguindo a lógica própria da vida, teve o seu fim.
Entre outros, menos saudade não deixaram o Beira Mar, na Alameda João Alves Cerqueira, com os três painéis de Carolino Ramos, que são uma preciosidade (felizmente ainda lá estão; vamos ver até quando, porque nessa matéria os crimes são incontáveis) e como foram recentemente o Guerreiro, o Moderno e o Copacabana.
Contudo, perante esta evidência do que acaba e do que surge, não podemos deixar de lamentar realidades e comportamentos. Realidade é, desde há muito, a modorra em que caiu a nossa Praça da República, pouco estimuladora para quem lá queira arriscar investimento. Se recuarmos no tempo, bem nos lembramos que, pela sua nobreza e monumentalidade, este espaço era o mais procurado da cidade e o local onde os vianenses mais se concentravam, mas hoje assim não é. Há dias e horas, especialmente quando faz nortada fria, que ali não se vê viva alma. Será difícil acertar em soluções para fazer da nossa Praça o centro de convívio que sempre foi?
Acho que não. Se não temos ideias, temos a obrigação de aprender com quem já teve problemas idênticos e soube resolvê-los.
Uma outra questão que é visível em boa parte dos estabelecimentos encerrados, desta ou outra área – como acontece com muito do que finda neste país -, é a falta de respeito por aqueles que ao longo do tempo os mantiveram em laboração, tantas vezes com dedicação extrema a troco de mísero salário. Por vezes, fecha-se a porta e, depois, logo se verá, não se dando sequer satisfação a quem os serviu, deixando estes por conta do destino.
Se a justiça fosse célere e fidedigna, estas práticas seriam bem menos usuais. Tristemente, enquadrados numa Europa maioritariamente de direitos, ainda levamos o direito muito pouco a sério.
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