Povo triste?

Natacha Cabral
Natacha Cabral

Dizer que o povo português é um povo triste, é como deixar uma conversa pela metade.

A alma portuguesa não é somente uma alma triste. É uma alma necessitada. Necessitada, apressadamente, de amor, de evolução, de esperança, e acima de tudo, de liberdade.

Uma vez mais, e se vamos discursar sobre esta temática, temos de mergulhar nas nossas raízes históricas.

Um regime Salazarista que prevaleceu anos a fio, talvez por tempo demais, impossibilitou-nos de muitas coisas. Fechou os nossos olhos ao mundo, incutiu-nos limites de pensamento e tornou-nos prisioneiros do medo. Fica a sensação que seria Portugal, e do outro lado do muro, a Europa e o resto do mundo.

Seguramente que nem tudo é mau. Esta existência fechada e limitada sobre nós próprios resultou no nascimento de coisas maravilhosas – o fado, as comédias, o espírito de entreajuda, a nossa hospitalidade e consequentemente, a nossa revolta. Daí que não me seja estranho viajar e ouvir na boca do mundo sobre a coragem e a tristeza da alma portuguesa, espalhadas um pouco por todo o lado.

É certo que nos tempos que correm, muitas coisas ficaram no passado, onde pertencem. Todavia, muitas permaneceram. Sente-se que ainda corre no nosso sangue traços de intolerância, de descrença, de inocência, e uma certa resistência à mudança, muito devido ao medo de uma nova possibilidade de opressão ou quiçá, a uma perda de controle.  Assim sendo, embora estejamos no caminho do progresso, ainda muito se desenrola a passo de caracol, podendo começar pelo excelente exemplo do que se passa no nosso sector educativo.

Os jovens e os próprios profissionais gritam, ao que me parece, no vazio, por uma urgência na reforma educativa e na própria maneira de pensar e de agir, o que insistentemente, encontra entraves após entraves.

Poderia claro, enumerar outros setores a precisar da nossa atenção, contudo é importante que não se esqueçam que o futuro de um país estará sempre condicionado pelas bases educativas, sendo que não é de admirar o porquê de tantos adolescentes pré – formados optarem por abandonar o país à procura de melhores oportunidades. Só nos podemos queixar de nós próprios.

Mas não só de tristeza vive Portugal. E é bom que o povo se convença disso!

A nossa história ensinou-nos a desenvolver um espírito de nobreza, de cuidado pelo outro, de adaptação, de resiliência e de sensibilidade. Há que aproveitar estes atributos, muito bem considerados além-fronteiras. Mas há seguramente, muito trabalho pela frente, que não pode, nem deve, ser desconsiderado ou tomado por suficiente. Pois o dia em que acharmos que é suficiente ou, por ventura, satisfatório, é o dia que regressamos a um passado que fala por si.

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