Proteste-se, então

Gonçalo Fagundes Meira
Gonçalo Fagundes Meira

Branco Morais, na sua crónica semanal da presente edição, no espaço “Limiar do Prelo” (última página), de forma sumária, faz uma oportuna análise ao “Plano Ferroviário Nacional”, apresentado pelo Governo para discussão pública, com implementação prevista até ao ano de 2050. Na mesma, constata a forma como Viana passa ao lado deste projeto considerado ambicioso.

Antes de mais, convém saudar a opção do Governo pela ferrovia, que nunca devia ter sido abandonada. Não faltam desculpas para o desinteresse a que se levou o transporte ferroviário: saía caro ao país; já ninguém queria o comboio para se deslocar; o transporte de passageiros, e até de mercadorias, fazia-se melhor pela rodovia; com o crescimento da economia, o automóvel ocupou um lugar cimeiro no transporte de pessoas; e tantas outras desculpas aparentemente com lógica, mas sem lógica.

Sabemos que a sociedade tende para o discurso em voga e nem sempre defende o melhor para o país; porém, inaceitável, é a falta de visão de quem nos governa. Em democracia, os governos devem procurar respeitar a vontade popular no que é sensato e lógico, mas as grandes opções para gerir e desenvolver a nação têm que partir de quem foi eleito para o fazer.

O abandono da ferrovia, com todos os males que daí resultam, a começar nas consequências que as opções alternativas têm para o ambiente, foi culpa de todos os governos, particularmente os criados depois do 25 de Abril de 1974. Se o Caminho de Ferro vivia já quase em desespero no Estado Novo, a machadada final veio depois.

Mas deixemos o que está para trás, porque, como bem diz o povo, “não vale a pena chorar sobre leite derramado”. Concluiu-se, agora, que nunca devíamos ter encerrado estações, sacrificado linhas, ter extinto as empresas que construíam as carruagens, e que, necessário, era resolver os problemas existentes para reforçar o transporte de passageiros e mercadorias com recurso aos comboios.

Mais vale tarde do que nunca. Venha o transporte ferroviário. Contudo, voltemos ao princípio: há razões para protestar e apresentar alternativas neste debate público que vai ser feito sobre o “Plano Rodoviário Nacional”. Viana não pode ficar mais uma vez marginalizada. Viana tem que saber abraçar o progresso e acompanhar no desenvolvimento económico cidades que, ainda há pouco, tempo estavam ao nosso nível, como é, por exemplo, o caso de Aveiro, citando o mais visível. Está visto que, em Portugal, o protesto é que surte efeitos. Proteste-se, então. Com civismo, mas com firmeza. É tempo de deixar de ouvir que, enquanto os outros agem, trabalham e progridem, “Viana dorme”.

                                                                       GFM

Outras Opiniões

Os leitores são a força e a vida do nosso jornal Assine A Aurora do Lima

O contributo da A Aurora do Lima para a vida democrática e cívica da região reside na força da relação com os seus leitores.

Item adicionado ao carrinho.
0 itens - 0.00

Ainda não é assinante?

Ao tornar-se assinante está a fortalecer a imprensa regional, garantindo a sua
independência.