Na verdade, porque fazemos nós estas perguntas? Caro leitor, não sei quanto a si, mas quer-me parecer que quem muito faz estas perguntas, interiormente, tem duas coisas – uma grande confusão interior e uma falta de fé na vida.
Há muito que se tenta entender sobre este mistério que é a vida. Não é assim tão recente quanto se possa pensar a abordagem a estas temáticas, ou não fossem os filósofos da Grécia Antiga os primeiros a questionarem o misticismo de viver.
Hoje, ainda há quem persiga esta resposta sobre rodas e a alta velocidade, tudo para chegarem a um cruzamento cada vez mais extenso. E tudo porque este tipo de perguntas se, por um lado, não têm resposta óbvia, por outro, é tão simples como sabermos eliminar a confusão e aprender a amar o próprio facto de estarmos vivos na nossa pele.
Daí que seja preciso viver muito para atingir aquilo que se possa chamar de sabedoria. Mas sejamos desde já claros: não se confunda sabedoria com inteligência, ou inteligência com intelecto. O intelecto aprende-se nos livros e no ofício; a inteligência é a soma do intelecto com as emoções; e a sabedoria é a capacidade de juntar, na perfeita medida, os três aspetos.
Mas eis o problema: a inteligência só existe quando existe autoconhecimento, pois do que serve sermos o maior intelectual quando nem sabemos exatamente quem nós somos, porque pensamos como pensamos, porque agimos como agimos ou porque o outro sofre?
Percebe agora porque lhe digo que a sabedoria não é uma mercadoria comercializável? É preciso viver-se. E quando digo viver, é viver sem medos, sem limitações, sem dogmas, sem tradições, sem imposições.
Ninguém poderá nunca dizer-se livre quando segue algo ou alguém, seja uma doutrina, um ídolo ou uma simples crença.
Nenhuma mente poderá ser livre quando se limita a pensar. É preciso ousar. É preciso partir para o desconhecido. É preciso, a meio dessas viagens, marcar um encontro connosco. Sentar numa mesa e abrirmos o jogo à nossa sombra – mostrar os nossos ases e os nossos duques, que é o mesmo que dizer reconhecer as nossas fraquezas, os nossos medos e as nossas possibilidades.
A verdadeira sabedoria vem com a abnegação do eu, com a libertação dos nossos medos, com os relacionamentos e com a conexão ao amor no seu grau mais elevado. Assim, se vive com medo, vive com a mente e com o coração deturpado e com isso vai perdendo a capacidade de se conectar às coisas simples da vida e aos outros. Mas se optar por viver em si, por se conhecer a si mesmo, por se aprimorar, por se mimar, aprenderá rapidamente a amar a tudo o resto, não tendo mais a necessidade de procurar a resposta a estas perguntas existenciais.
Compreendo perfeitamente que o leitor possa considerar isto louco, mas a verdade é que tanto você como eu fazemos parte do mundo, e o mundo somos Nós. Logo, aquilo que de melhor lhe posso pedir é que ouse mudar, ainda sabendo que a mudança é radical, delicada e atribulada.
Na minha modesta opinião, o nosso propósito de vida será sempre tornar a vida mais rica – não com dinheiro, mas sim rica interiormente.
Poderão seguramente os cientistas contestar tal coisa, afirmando que a tecnologia foi a nossa maior revolução e que nos levou muito longe, a patamares impensáveis, até, tais como pôr um homem na Lua. Mas será que isso resolveu o conflito do problema humano?
A resposta está à vista de todos.
Termino este pensamento com a seguinte frase do autor J. Krishnamurti: “Para encontrarmos o nosso propósito da vida, precisamos passar pela porta de nós mesmos.”
E qual maior ousadia, se não esta?