Não sei bem por onde começar este escrito, isto é, se me dirijo aos mais jovens ou aos mais velhos, mas, seja como for, senti-me movida a escrevê-lo. A vida é caos e fluidez ao mesmo tempo. É evidência e dúvida. É segurança e instabilidade. É frustração e paz. É ódio e amor. A vida é um pouco de tudo. Não poderá nunca haver um muito de pouco. Não faria sentido, uma vez que a balança pende sempre para os dois lados, ora umas vezes mais para a esquerda, ora para a direita, naquilo que muitos compreendem como o equilíbrio perfeito da vida na terra. Não há vida sem a morte, nem morte sem a vida. E assim como existe a morte física, também o nosso percurso de vida passa por momentos de conclusão, renovação e início, o que deveria ser visto com bons olhos, mas confesso entender perfeitamente a dificuldade que certos momentos de nós exigem.
É muito fácil perdermos-mos nos nossos pensares, nas nossas angústias, nos nossos fantasmas internos, no nosso passado e no medo futuro que isso provoca. É natural. Fomos ensinados a lidar com o intelecto e muito pouco com as emoções. Porém, todos os dias o sol nasce. Todos os dias uma nova porta se abre. Uma nova oportunidade espreita na esquina.
É preciso lavarmos a cara logo pela manhã sabendo que podemos olhar para o horizonte longínquo repleto de novos começos, de uma nova esperança. Meu caro, não sei o que enfrenta, mas sei da sua dor. Só quem passa por várias mortes e renascimentos poderá ficar sensível aos outros e às cicatrizes que a vida nos vai deixando na pele. Não é fácil, nem sei se deveria ser. Mas sei que cada um de nós tem um devido percurso, uns mais óbvios, outros mais atribulados. Independentemente da velocidade ou das amarguras mastigadas, apenas lhe posso dizer para renascer para cada dia com fé e com o espírito aberto para a mudança que a própria vida em si nos reserva.
Tantas vezes achamos que queremos ser algo para no fim descobrirmos a nossa verdadeira paixão a fazer outra coisa totalmente distinta. Tantas outras vezes fixamos o nosso olhar apenas numa direção e não vemos passar por nós tantas coisas para cima de boas. Tudo isto para dizer que o nosso percurso não precisa de se limitar a X. Pode ser Y, Z e até a combinação de muito mais. Basta apenas que se abra às possibilidades infinitas ao seu redor. Às vezes o universo desvia-nos de uma estrada tão desejada para nos guiar por outra muito melhor, é só preciso lavar bem a cara, abrir bem os olhos e os ouvidos e deixar que a vida flua por nós, assim como a água flui para um rio.
Meu caro, não sei das suas dores, mas sei que também pode. Afaste-se, e a luz de que tanto precisa na sua apavorada escuridão, aparecerá para si.
