Nos tempos que correm, parece que este velho provérbio se ajusta bem ao “quem casa fica em casa”. Com salários modestos, baixa oferta de habitação, e casas inacessíveis na aquisição ou no arrendamento, a quem estabelece união só resta viver com a família. Não dá para ter ilusões de “casamento amoroso, complementado com abrigo honroso”.
Sabe-se mal como aqui se chegou. Em dezembro de 2012, no portal “Dinheiro vivo”, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), escrevia-se que em Portugal havia mais 1,8 milhões de casas do que famílias. Ainda segundo o INE, 32% dos alojamentos existentes correspondiam a residências secundárias ou estavam desocupados. Era assim há 11 anos. Perante as dificuldades que hoje se deparam aos portugueses para comprar ou alugar casa, e aos jovens em particular, é obrigatório questionar quem nos tem governado para saber como até aqui caminhámos.
Surge agora uma proposta de lei para minorar o problema, que não agrada a ninguém, ao ponto de por alguns ser apelidada de subversiva. Terá o projeto muitos pontos negros, contudo, o mais questionável é a forma como um assunto de suprema importância para quem não tem onde viver é mal tratado pela maioria da classe política. Todos os partidos têm programas próprios e visões distintas do Governo e, até aí, nada a questionar, já que assim manda o nosso sistema democrático. Contudo, civilizadamente, como gente de bem, em questões fundamentais, os entendimentos devem ser criados, para que a melhor governação se estabeleça. Se assim não for, jamais passaremos da condição de nação adiada.
Nesta tão delicada questão habitacional, e na procura de soluções para minorar desaires, também mal se compreende o menor envolvimento das Autarquias. Com o problema a avolumar-se, não se entende como, desde há muito tempo, o Governo e o Poder Autárquico, entendidamente, não foram capazes de criar as condições mínimas para que até aqui não se chegasse.
Não é fácil governar um país de poucos recursos e com uma conjuntura mundial pouco favorável, mas é possível fazer bem melhor. Porém, para bem de todos nós, as oposições, sem abdicarem das questões de princípio por que se regem, têm também a obrigação de contribuir com a parte que lhes toca.
GFM