Sobretudo em campanhas eleitorais – mas não só -, oiço muitas vezes certos corifeus-partidários apregoarem, como lei-base da sua doutrina-social, a “defesa do Trabalhador e do Povo”… Nada contra aquele nem nada contra este!… “Trabalhador” e “Povo” – lema louvável!
Ora isto leva-me a especular, impondo-se-me imediatamente esta pergunta: – “quem deixarão eles de fora”, nesse tão solene e proclamado lema de ação…!? Expliquemos melhor: “defesa do Trabalhador e do Povo” destaca, como exclusividade de ação, duas categorias de pessoas: Trabalhadores e Povo. Muito bem! Convirá, porém, concretizar um pouco esses dois termos, que, a meu ver, são polissémicos ou plurissignificativos…
Há Trabalhos: físico-mental, espiritual, social, pedagógico, desportivo, artístico, escolar, empresarial, politico, religioso, etc, etc….
Quando se propala aos quatro-ventos a “defesa dos Trabalhadores”, quem pensam excluir ou deixar de-fora…? os Velhinhos (já não trabalham…)? As crianças? Os Enfermos? Os Presos? As Donas-de-casa? Os Mendigos ou Sem-abrigos’ Os Deficientes? Os Marginais ou Marginalizados…?
Quem não consideram “trabalhador” e consequentemente deixam de-fora, nas preocupações politicas…? Os Empregadores!? Não me parece… É que esses Empregadores trabalham arduamente, para que o “barco” (em que remam eles e seus empregados), evite recifes, não meta água que o faça ir ao fundo, com prejuízo para esses remadores, familiares e Sociedade…
Mas então falem de outros “excluídos” da sua bandeira protetora…! Os Ricos, Milionários, Capitalistas, Banqueiros…!? Talvez… para bom entendedor, as estrelinhas também falam… A ser assim, boa gente dirá: – “que desmiolado lema pragmático…!” Que seria duma Sociedade sem tais elementos empreendedores e motores de progresso…!?
“Gulbenkian” não fez nada por Portugal, mesmo sendo ele estrangeiro!? Não criou riqueza, que pôs e ainda põe ao serviço de muitos trabalhadores!?
E “Américo Amorim”, “Champallimaud”, “Belmiro Azevedo”, “Pedro Queiroz”, etc., chorados, ainda hoje, por tanta gente, não foram “trabalhadores” insignes, a favor da Comunidade!? Será injusto e descabido considerar “trabalhador”: um Presidente da República, um Ministro, um Magistrado, um “Catedrático”, um “Emprestador de dinheiro”, um Investigador, etc…!?
Quem consideram verdadeiramente um “trabalhador”!?
Apenas o “empregado por conta de outrem” e com direitos únicos e sem deveres correlativos para a Comunidade!? Em quem se pensa realmente, ao lutar em “defesa do Trabalhador”!? “Viva!” ao Trabalhador, sim, mas a todos quantos realizam “trabalho”, desde que digno, justo, honrado, vantajoso à Comunidade e não apenas a alguns…! Se há quem troque “trabalho” por “dinheiro”, indispensável é também haver Empregadores que troquem “dinheiro” por “trabalho”…
Pensemos agora na 2ª parte do lema: “defesa do Povo”. Que bandeira é essa que promete defender o Povo!? Como já não estamos na Idade Média, já ninguém fala, hoje, nas três categorias sociais, de patamares diferentes “Clero-Nobreza-Povo”. Quando se promete a solene “defesa do Povo”, quais os protegidos e quais os excluídos!? Quem constitui o “Povo” de uma Nação ou Pais são – julgo eu – todas as pessoas que aí vivem, trabalham e cooperam para o Bem-comum. Diferentes embora, em muitos aspectos, todos integram uma Comunidade. Os dedos de uma só mão são desiguais, mas todos eles integram a mão. Os Continentes e Nações da Terra são inconfundíveis, mas todos os seus Povos constituem a Humanidade…
Concluindo: cuidado, pois, com o “isco” “defesa do Trabalhador e do Povo”…! Que se defenda todo o “Povo” e não apenas alguns membros, supostos privilegiados…!