Nos anos 80 levantaram-se várias vozes contra o início da Globalização. A Extrema-Esquerda e a Extrema-Direita uniram-se, uma vez mais, na condenação do projecto mundial de comércio livre concebido por Regan e Tatcher. Diziam que era um plano capitalista para dominar o mundo, que era uma nova forma de colonialismo, que seria catastrófico para os países pobres e que só iria beneficiar os países ricos. Marxistas, socialistas retrógrados e ultranacionalistas entraram em pânico e é fácil perceber porquê: se o liberalismo económico funcionasse à escala global, as teorias económicas da esquerda e da extrema-direita – a intervenção estatal e o proteccionismo – seriam definitivamente refutadas. Pior ainda, seria o triunfo final do liberalismo económico.
Passados estes anos, com a China a transformar-se na maior potência do mundo, o crescimento dos restantes países asiáticos, assim como da maioria dos países da América Latina e de África, ninguém de boa-fé pode questionar o sucesso da Globalização. Numa rápida pesquisa pela net, qualquer pessoa pode constatar que desde os anos 90 até ao presente a pobreza mundial diminui em cerca de 24%, o que significa que aproximadamente 1,4 biliões de seres humanos melhoraram a sua vida. Além disso, por estarem sujeitas à opinião pública mundial, as empresas globalizadoras são obrigadas a respeitar os direitos dos trabalhadores e a proteger o ambiente – caso contrário, e isso acontece, são boicotadas pelos consumidores.
A Globalização é o maior feito da humanidade. Nunca tantas pessoas beneficiaram de uma ideia, de um projecto. Algo tão simples quanto isto: deixem os povos fazer negócios – e com os negócios vêm as ideias e a cultura. É a melhor forma de atenuar as desigualdades entre ricos e pobres. Não foi a luta de classes e a nacionalização dos meios de produção. Não foram Marx e Lenine. Foram Smith, Regan e Tatcher que resgataram da miséria milhões de seres humanos. E se houve alguém prejudicado com o livre comércio mundial foram os sectores industriais e agrícolas dos países ricos. Portanto, quem não tem medo da Globalização são os países mais pobres que querem também beneficiar da liberdade de comércio mundial, são os emigrantes e refugiados que querem viver nos países liberais do Ocidente que os acolhem e, no fundo, todas as pessoas que não sejam fanáticos agarrados a dogmas marxistas ou ultranacionalistas.
No entanto, contra todas as evidências e factos, as forças antiglobalização continuam a sua luta com os mesmos argumentos de estarem do lado dos pobres – que não lhes passaram nenhuma procuração para os defenderem. Os seus ideólogos são intelectuais confortavelmente instalados no sistema capitalista que tanto abominam. Usufruem de rendimentos acima da média, aparecem nos media privados, não dispensam os melhores modelos de telemóveis, computadores, carros e todos os artigos de consumo possibilitados pela Globalização. Não lhes passa pela cabeça renunciar às suas mordomias capitalistas resultantes do mérito – que já lhes parece justo no seu próprio caso. E quanto aos pobres, só os conheçam da televisão.
Em Portugal, a tribo antiglobalização, anticapitalista, antiliberal ainda goza de algum prestígio. Basta ligar as televisões e lá estão eles, os profetas de uma desgraça que nunca se cumpriu. É um velho discurso que vem dos tempos da União Soviética contra as sociedades ocidentais, equiparando o Capitalismo ao Fascismo, ao qual foram acrescentados novos ingredientes moderninhos: ideologia de género, racismo, colonialismo, xenofobia e ecologia. Como a luta de classes já passou à história, acirra-se agora a luta entre os sexos, a luta racial e a suposta defesa do planeta. Já existe a teoria do ecofeminismo – o patriarcado é que está a dar cabo do planeta -, da matemática racista – a matemática é uma invenção dos brancos para tramar os negros – e da associação mirabolante entre alterações climáticas e colonialismo – Greta Thunberg, quem haveria de ser?
Felizmente, há cada vez mais pessoas informadas que não engolem tais patranhas. Seja porque sabem consultar fontes credíveis, seja porque viajaram e viram com os seus olhos como o mundo está a evoluir, não temem o papão neoliberal. Pelo contrário, um número crescente de portugueses que só deseja melhorar a sua vida, que investiu na educação dos seus filhos e que sabe que com as suas potencialidades geográficas e humanas Portugal deveria ser um país mais rico, justo e democrático estão receptivos às ideias liberais.
João Cerqueira
Nota: o autor não acompanha o novo acordo ortográfico