Decididamente, quase metade da população portuguesa (45,50% de abstencionistas) está apostada em não participar na vida democrática do país. Em relação às eleições legislativas de 2015 houve mais 288 027 cidadãos a não participar na escolha das forças políticas que os irão governar ao longo dos próximos 4 anos.
O Presidente da República que, à luz das amostragens que se vão fazendo, tem cotas elevadíssimas de popularidade (mais de 70%) bem disse que “não votar é perder autoridade para contestar”, mas os resultados desse apelo não se evidenciaram. Contas feitas, não votando 4.250.660 cidadãos, o Presidente não convenceu quase 3 milhões dos que o admiram. Beijinhos, abraços e selfies são posturas de circunstância.
Os argumentos dos cidadãos que teimam em não votar são quase sempre os mesmos: má governação, pouca seriedade dos políticos, agravamento da situação social, etc., etc. Pessoalmente, penso que a elevada abstenção e consequente não participação na vida cívica da nação (não deixando de reconhecer as deficiências próprias dos partidos políticos) tem mais a ver com questões de ordem cultural.
As argumentações invocadas são pouco plausíveis, já que fenómenos idênticos existem no mundo inteiro, havendo, inclusive, em grande parte dos países governações verdadeiramente trágicas. Constatável é que a corrupção, por exemplo, é muito menor nas nações onde a participação cívica é mais elevada, caso da região da Escandinávia, onde os cidadãos são aberta e justamente críticos, mas demonstrando por outro lado uma forte consciência nos seus deveres para com a sua sociedade.
Querer o “paraíso” na terra é pura ficção, e muito menos quando estamos associados ao “diabo”. O Portugal da prosperidade, da boa justiça, impoluto e solidário que tanto reclamamos não cai do céu. Se não o soubermos construir lá não chegaremos. Tudo sai das nossas mãos, nada vem do além, nem da parte de ninguém.
Nestas eleições, não houve maiorias absolutas, mas, provavelmente, o diálogo intenso e o encontro de caminhos é assim mais possível. Sabemos bem o que já deram as maiorias absolutas e como se desgovernou para as obter. Que cada um e todos os que podem ser parte nas soluções para governar este país – que continua com os seus problemas bem presentes –, sem prejuízo das suas conceções de sociedade, saibam encontrar os melhores caminhos da governação.