Relembrando o passado

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Leandro Matos

Em rapaz, o mais velho de seis irmãos, meus pais incumbiam-me quase sempre das lides caseiras. Fazia tarefas como: embalar o berço dos mais novos, ir à erva para os animais, ajudar a semear batatas, regar o cebolo, tomates, apanhar couves, ripar azeitona num terreno que dispúnhamos não muito longe de casa. Cedo me habituaram meus progenitores, às responsabilidades. O regador, ia enchê-lo ao rio do Outrelo que passava ali bem perto, e lá o trazia cheio, servindo muitas vezes para regar a roupa que minha mãe deixava a corar. Hábitos de outros tempos!

Depois, quando as uvas começavam a amadurecer, encarregavam-me de ter conta nelas. Era hábito, naquela época, sobretudo a rapaziada mais jovem, e não só, “depenicarem” alguns cachos. Hoje, isso já não acontece, os proprietários até as abandonam!

Aos dez anos, chegava a casa exausto e ainda tinha os deveres escolares para fazer à luz do petróleo. É verdade! Não havia eletricidade na aldeia. Nem tempo tinha para me divertir com os colegas de escola.

Ao domingo à tarde, obrigatoriamente, tinha de ir para a reza do terço na igreja de Vila de Punhe. Passava na “travessa”, local onde comprava um chupa-chupa à “Tia” Engrácia do Novo, com dois tostões que meu tio Domingos me dava. E lá seguia caminho!

Mais tarde, comecei a ter que ir para Viana, continuar os estudos na Escola Industrial e Comercial. Tirava um passe semestral (embora o seu preço fosse uma “facada” no orçamento familiar) que dava também para viajar aos domingos, na companhia dos colegas de escola, para namoriscar… Só regressávamos à noite.

Já com 14 anos permitia-me saídas, para fora da Vila, embora não fosse muito do agrado de meu pai! Ao fim de semana, ia treinar hóquei em patins para Barroselas. Havia na época um ringue e uma equipa, e, esporadicamente, jogos ao lado da Casa do Povo, hoje transformado em monumento histórico. Ali granjeei muitos amigos. Acabado o curso, fui para a sala de desenho dos Estaleiros Navais e, nesse mesmo ano, para França.

Mais tarde, apesar da guerra colonial, escapei ao ultramar. A minha tropa foi sempre adiada e assim fui conseguindo livrar-me da mobilização de que foram alvo muitos dos meus amigos de geração. Coisas do passado, que relembro com alguma saudade.

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