Após a nossa colocação na Escola Comercial e Industrial de Viana do Castelo, eu e a Ana pernoitámos durante três meses na Pensão Laranjeira. Entretanto, tínhamos alugado uma casa nas Ursulinas com uma vista gloriosa para o mar.
Mas, se já tínhamos casa, faltava-nos todo o recheio que íamos comprando aos poucos. Até que chegou a vez dos eletrodomésticos.
– Onde vocês compram bem é numa loja na rua de S. Sebastião.
Estávamos na sala dos professores.
A informação vinha do nosso colega Manuel Freitas – também dono da Ourivesaria Freitas. Perante a nossa ignorância das geografias vianenses, explicou-nos:
– Vocês vão daqui e atravessam o campo da Agonia. No Largo da Igreja saem três ruas. É uma delas. Não tem nada que enganar.
Assim fizemos. No Largo da Igreja, optamos por escolher aquela que nos pareceu mais importante. Tinha uma placa que a identificava como rua Manuel Espregueira, e acreditámos que iria desembocar na tal rua de S. Sebastião. Percorremo-la até ao fim e percebemos que nos tínhamos enganado, assim que deparámos com a Praça da República. Voltámos para trás. Por via das coisas, entrei num café e, ao balcão, perguntei onde ficava a rua de S. Sebastião. Aquele que me pareceu ser o dono, sorriu e declarou:
– Essa rua há muito tempo que se chama “Manuel Espregueira.” Alguém vos pregou uma partida.
Era verdade. Na convivência com o Manuel Freitas, fui percebendo que ele era um alho nestas boas brincadeiras.
Orlando Barros