3. Aliados
No coração da cidade, acaba de se erguer uma árvore luminosa, sem natureza nem nome, lembrando velhas fogueiras solsticiais. A euforia em torno do lume artificial é grande, os corpos apertam-se partilhando o calor, talvez escasso, dos casacos e dando densidade à chusma. Novos e velhos, altos e baixos, belos e feios; daqui e dali; ricos e pobres; um homem só. Vocifera palavras numa língua desconhecida que afasta o magote. Cara e casaco gastos e encorrilhados; pernas e calças bambas e crespas; pés e sapatos pretos e deformados; mãos e olhos vazios e frios. Finalmente junto à árvore, dá-me lume.
Pedro Pereira