Sair de palco

Gonçalo Fagundes Meira
Gonçalo Fagundes Meira

Tal como a verdade do Senhor de Lá Palisse (ao que consta erradamente interpretada), o que começa sempre acaba. Um dia acabará mesmo, mas agora a ideia até é interromper. Notas Curtas sai de palco, fundamentalmente para não cansar ninguém. Sim porque, regra geral, tudo afadiga. Eu leio alguns (muito poucos) cronistas há décadas, mas esses são raros, são mesmo especiais. Por vezes, determinados textos até os releio, porque me tocam, quer pelo tema, quer pela forma como este é tratado. A arte de quem escreve está em redigir textos curtos onde muito se diz e de feição a que o leitor, iniciando-os, jamais tenha a tentação de os abandonar sem chegar ao fim, porque verdadeiramente preso ao estilo dos mesmos. Mas há pouco quem o saiba fazer.

Isso é para os grandes cronistas, que vivem praticamente disso e para isso. Esses, mesmo que por vezes naveguem na utopia, porque em mundo próprio e nem sempre em sintonia com a realidade, são capazes de fazer da sua escrita algo superior, ao ponto de a gente não concordar, mas também não romper com eles. Não tenho essa pretensão. Por isso é que entendo que quanto mais curto no que se escreve melhor se defende quem o faz.

Então, ia falando de eventual cansaço dos leitores que, muito naturalmente, viram a página ao tropeçar mais uma vez com alguém que já não têm paciência para ler. Sim, para não cansar e dar lugar a outros, já que não falta por aí quem bem escreva, vou largar o espaço que ocupei ao longo de 60 semanas. Talvez volte mais tarde, se, entretanto, alguém que me tem lido não contestar o regresso. Mas por aqui me mantenho, particularmente agora que este velho semanário, o mais antigo de Portugal Continental, mais necessita de contributos para fazer frente a esta profunda crise por que passa a comunicação social à escala planetária, e particularmente no nosso país, com consequências redobradas na nossa região de economia embaraçada.

Não está fácil a vida para os jornais, por muito que estes procurem ajustar-se às realidades de cada momento. Há quem diga que o jornal impresso nunca desaparecerá, porque haverá sempre fiéis à escrita em papel. Poderá assim ser, mas o que vamos vendo, cada vez mais, são títulos de referência pela qualidade e antiguidade a deixar-se abater. Todavia, o desânimo nunca aqui fez escola, porque são 165 anos a bater o pé pela manutenção de portas abertas e a pugnar pela causa da região. É por isso que, “a vindimar ou no lagar, o que é preciso é não parar”, porque quando o desânimo se instala o progresso perde vigor. Continuemos, então.

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