Senhor dos Mareantes
leva contigo
este pequeno barco todo a esboroar,
tão frágil e negro como breu.
Ele está bem cansado
pois já é antigo
e por não ter abrigo
já quase tudo perdeu.
Não importa a rota
nem interessa o destino,
ele perdeu em menino
a esperança que tinha;
a sua sina brota
marés assaz traiçoeiras,
há falsas sereias
e a grande vaga daninha.
Que Neptuno traga
ondas de acalmia
e o deixe alcançar
uma ilha sem contendas.
Mesmo vedadas as fendas,
assim a marulhar,
a visão salgada
não o deixa manobrar.
Senhor dos Mareantes
leva-o contigo no convés
para tentar a sorte,
enfim, uma vez mais.
Mas se acaso as marés
são iguais às de dantes,
para não perder mais o norte
deixa-o ficar no cais!
Eugénio Monteverde