No Alto Minho, grande parte das mulheres assumiram o papel de matriarcas e algumas delas, pela sua heroicidade, passaram mesmo à história como lendas locais – caso de Deuladeu, em Monção, e de Inês Negra, em Melgaço.
O matriarcado vianense não se consubstanciou em nenhuma lenda local, mas está plasmado, desde o século XVIII, na estátua de uma mulher robusta, com uma caravela numa mão e o bastão de comando na outra, que representa Viana.
Sou descendente de vianesas que, no século XVI, receberam com hostilidade a máxima autoridade régia no concelho. Também por isso, sempre qualifiquei Viana de feminina. E, em consonância com esta qualificação, no princípio dos anos 90, convidei um escultor vianense a conceber uma peça escultórica em bronze, para ser implantada em lugar nobre da cidade, que homenageasse Viana e a sua feminilidade.
Esta estátua de homenagem às mulheres de Viana foi bem concebida. Mas, desvalorizando-a e não tributando a sua beleza, foi relegada para as traseiras da fortaleza, junto aos estaleiros navais. E implantada fora do coração da urbe… melhor seria que ela pudesse ajudar a “vestir” o amplo campo da Senhora da Agonia!
A relação entre topónimos femininos e masculinos em Portugal, rondando 1 para 10, tem vindo a aumentar, reduzindo-se a desigualdade de género na toponímia nacional. Mas, entre nós, aquela relação é de 1/20, apenas metade da nacional!
Apesar de Viana ser representada por figuras femininas, a distribuição de títulos honoríficos concedidos, pela Câmara Municipal, no princípio de cada ano, desde 1995, não tem sido tão pródiga para as mulheres (36) como para os homens (213) e para as instituições (201). E, na distribuição deste ano, ainda foi menos pródiga para as mulheres, uma vez que estas “mereceram”, apenas, 2 das 33 distinções feitas!
Questiono-me sobre se Viana é realmente feminina. E respondo: É-o! Mas urge que, entre nós, as desigualdades de género comecem a ser reduzidas para que Viana, sendo feminina, também o pareça!