Sinais dos tempos

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A. Lobo de Carvalho

A evolução da civilização tem sido meteórica ao longo dos tempos, particularmente nas últimas décadas, e, pelo que se vai observando, acredito que não tem limites. A inteligência humana, liderada pelos cérebros de muitos génios em todo o mundo, avançará sem fim na descoberta de novos modelos de vida e nas tecnologias cada vez mais inovadoras. Resta saber se terá sempre mecanismos de defesa ou se acabará por perder o controlo das máquinas que cria e das quais já hoje estamos totalmente dependentes. A inteligência artificial, que já nos comanda e que cada vez mais se aperfeiçoa, poderá vir a tornar-se incontrolável. Como exemplo, pensemos no que seria a humanidade sem a internet e a computorização. Mergulhar-se-ia no caos total.
Estamos a viver uma época — no sentido em que se trata de um momento fundamental da História — com transformações tecnológicas e sociais impensáveis há poucas décadas. Veja-se o que em tão pouco tempo ocorreu em termos sociais, referindo-me especialmente ao nosso país, onde nada se inventa mas tudo se importa dos outros mais avançados. O que era considerado disfuncional, proibido e criminalizado passou a ser reconhecido como normal e legal pelo Estado, como as mortes de bebés (abortos voluntários apoiados pelo Serviço Nacional de Saúde), casamentos de homossexuais, crianças sem o direito a terem um pai e uma mãe, barrigas de aluguer, legalização da morte (eutanásia, cujo processo está em curso) e mais não vale a pena referir. Situações fracturantes da civilização alcançaram o estatuto de leis.
Assim, a sociedade, tal como a conhecíamos há poucos anos, virou completamente, quanto a mim para muito pior, porque destas manipulações da natureza não creio que resulte um produto final que traga benefícios globais às sociedades. Muitos de nós já não estarão cá para ver, mas, pelas reivindicações extremistas que aumentam no país, ainda acabarão por ser legalizadas outras práticas que hoje condenamos com profundo repúdio. O orgulho que alguns grupelhos pretendem exibir e incutir na sociedade, através dos seus pontas de lança na política, não passa de um substituto pobre da inteligência. Vai-se perdendo a alma cavalgando nas amplas liberdades do gozo de uma vida que não se repete nesta dimensão cósmica, valorizando-se apenas o momento e o que é material.
Mas estes sinais dos tempos modernos não se ficam por aqui. Veja-se o que se passa com a natureza nas suas alterações climáticas. Incêndios incontroláveis nunca vistos, devido à sua potência destruidora, que devastam florestas, casas, pessoas e tudo quanto encontram; chuvas torrenciais que matam pessoas, animais e que destroem habitações e povoações inteiras; o degelo das grandes massas polares que provocam a subida das águas dos mares; furacões que arrasam cidades inteiras e tudo por onde passam, secas terríveis, etc, etc. Tudo isto, me faz pensar que a natureza está zangada e que não devemos contrariá-la, porque Deus dotou-a com leis que devem ser respeitadas para se manter um equilíbrio perfeito.
As migrações em massa são outro fenómeno destes tempos modernos, quer porque os territórios onde vivem os povos não lhes oferecem as mínimas condições de sobrevivência devido às alterações do clima, quer porque o egoísmo de forças políticas, com grupos armados, na busca do controlo dos recursos naturais para um enriquecimento rápido e fácil, não respeitam a vida humana e não oferecem qualquer espécie de segurança, antes pelo contrário, matam indiscriminadamente. Depois, são os políticos xenófobos e racistas de alguns países que, tendo condições para acolher essas pessoas deslocadas, rejeitam-nas! Esquecem-se que são seres humanos que merecem respeito e que a verdade é que uma pele diferente e uma língua também diferente não fazem de outro ser humano um inimigo.
Existem, na generalidade dos países, muitas e variadas descrições de profecias, eu diria que para todos os gostos. Não que eu seja um adepto fervoroso desse tipo de mensagens, mas gosto de, ocasionalmente, passar os olhos por um ou outro livro com esse conteúdo. E a verdade é que estão a suceder situações que têm semelhança com premonições antigas, o que talvez nos devesse fazer parar para pensar sobre o que o futuro reserva à humanidade.
Procuro estar atento aos sinais dos tempos, designadamente às rápidas transformações sociais. Acredito que os sinais não se manifestam por mero acaso, mas que são portadores de mensagens que nos devem fazer reflectir. E as mentes preclaras que regem o nosso destino colectivo deveriam também fazer algumas pausas nesta viagem. Talvez descobrissem valores existenciais mais importantes do que só matéria e o gozo do momento presente.

(Imagem: “Hoost”)

 

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