Quando cidadãos ucranianos (concidadãos europeus) começam a ter o território invadido e começam também – por uma questão de sobrevivência – a sair do mesmo, falando-se já em “III Grande Guerra Mundial”, tenho ainda mais presente o ideal e a visão de Mário Soares (como de outros democratas lusos, do seu partido e de outros partidos).
Mário Soares insurgiu-se frontalmente perante a ditadura do Estado Novo – algo que lhe valeu doze detenções -, parando de combater o fascismo somente quando este foi derrubado.
A Guerra do Ultramar acabou (sendo este o terminus de um conflito que teve milhares de soldados mortos; profundas lesões físicas; profundas lesões psíquicas e profundas lesões morais) e as então colónias africanas passaram a ser independentes (algo que não se deu no Marcellismo, nem tão-pouco no Salazarismo). – Findando, portanto, também o colonialismo.
As largas centenas de pessoas afectas à venenosa e criminosa DGS/PIDE/PVDE mantiveram-se estimadas e legalmente integradas no quotidiano laboral do nosso país em democracia, bem como elementos da direita terrorista.
Com igual veemência, antes mesmo, Soares opôs-se à vontade de uma ditadura comunista para o território luso, que vinha do lado daqueles que tinham a URSS como grande referência (algo que leva a que pessoas de diferentes alas políticas o admirem; o aplaudam e em si tenham votado).
Inúmeras famílias de operários e inúmeras famílias de pequenos comerciantes melhoraram o seu nível de vida (podendo garantir uma melhor alimentação e uma melhor educação aos filhos), chegando algumas inclusivamente a ricas.
À passagem da década de oitenta para a década de noventa, o apaziguador advogado colocou agora integrantes da esquerda terrorista em liberdade e, igualmente, inseridos na sociedade civil (havendo, entre estes, ex-membros do absolutista COPCON).
Ainda que com as vastas cicatrizes, o bombismo acabou por ser anulado no nosso país e assim se mantém.
Portugal tem, nas últimas décadas, articulação com os demais países da Europa (e não apenas).
Teve duras zangas; rupturas e confrontos, bem como – sem qualquer dúvida – falhas e faltas de precisão em decisões sérias que tomou, bastando para isto tratar-se de um Ser Humano.
Quando alguns – com postura silenciosa e negligente – assistem à atitude social-totalitária do governo russo (parecendo não se importar com a mesma), recordo um tolerante europeísta e um democrata, que ainda hoje é apontado de traidor e de corrupto e a quem se deve boa parte da sensatez; da liberdade e da moderação, que temos em Portugal há mais de quarenta anos.
Francisco Coutinho – Porto,