O Festival de Avignon, reconhecido como o mais importante festival de teatro do mundo anunciou, no passado dia 5 de julho, na abertura da sua 75ª edição, que o português Tiago Rodrigues, atual diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, será o novo diretor do certame, a partir de setembro de 2022.
Foi em pleno dia de estreia da obra La Cerisaie (O Cerejal), de Anton Tchekhov, dirigida por Tiago Rodrigues a convite do festival francês, que a Ministra da Cultura de França, Roselyne Bachelot, anunciou a escolha daquele que será o primeiro estrangeiro a dirigir o festival, que este ano, abriu com o espetáculo do português, com a diva francesa Isabelle Huppert à frente de um elenco no qual pontua também a atriz portuguesa Isabel Abreu, com figurinos de José António Tenente, iluminação de Nuno Meira e música de Hélder Gonçalves e Manuela Azevedo, dos Clã.
Iniciado na pacata vila de Avignon, em 1947, num ato que pretendeu romper com o centralismo artístico parisiense, o festival de Avignon foi construindo uma identidade própria e inspirou a descentralização cultural francesa, assim como vários movimentos idênticos em toda a Europa, incluindo Portugal, tendo como figura de proa o encenador Jean Vilar, que dirigiu o festival durante mais de duas décadas, até ao fim da sua vida.
Também mais de duas décadas conta a trajetória teatral de Tiago Rodrigues, enfant terrible do teatro português, que abandonou o segundo ano da licenciatura em teatro para trabalhar com a companhia belga Tg Stan e que, regressado a Portugal, em 2003 foi co-fundador e diretor artístico, com Magda Bizarro, da entidade de criação Mundo Perfeito. Sem mais parar, e depois de 11 anos de atividade, em 2014, foi nomeado diretor do Teatro Nacional D. Maria II, que dirige desde então, tendo-lhe sido já atribuídos, entre outros, o Prémio Europa de Teatro e o Prémio Pessoa.
A aclamação da obra artística e programática de Tiago Rodrigues, de 44 anos de idade, como indigitado primeiro diretor estrangeiro do Festival d’ Avignon, reveste-se de um significado que constitui um dos momentos mais importantes de toda a história do teatro português, não pelo que encerra mas, precisamente, pelo que auspicia e pode propiciar para a afirmação dos criadores e criadoras teatrais nacionais a nível internacional. Mesmo porque, e paradoxalmente, mas como é traço lusitano, esse é um facto que pode contribuir para o reconhecimento desses mesmos artistas… também em Portugal.
Por isso, com Tiago Rodrigues, cantemos:
Sur le pont d’Avignon,
On y danse, on y danse
Sur le pont d’Avignon,
on y danse, tout en rond!