Sonhos interrompidos. É preciso paciência!

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Defensor Moura

A última página d’A Aurora do Lima foi dedicada ao “faz de conta”, com um artigo em que se anuncia que “O Centro Histórico regressa à Idade Média” e outro sobre “A via Entre Santos e o seu não prolongamento”.

Ao faz de conta da Idade Média faltam os maus cheiros, porque naquela altura eram toscas fossas que acolhiam os dejetos no Centro Histórico e muitos vianenses até despejavam o penico pela janela e as ruas cheiravam muito mal.

Ao contrário, no faz de conta da via Entre Santos (via ES) não falta o cheiro pestilento da exumação de um cadáver enterrado há trinta anos, para se repetir uma autópsia a pedido do inconsolável pai do finado, que ainda acredita que o filhote era um génio robusto e que tinha morrido por falta de assistência.

Todos conhecemos pais inconsoláveis com a perda de filhos, mas, como neste caso o médico assistente ainda está vivo e atento e ainda tem alguma paciência, vamos lá repetir o relatório da autópsia feita há trinta anos, que foi publicada e aprovada pelos vianenses:

– A 1ª fase da dita via ES, era um projeto antigo da Junta Autónoma de Estradas que a Câmara decidiu adotar e concretizar, a custos próprios;

– O tal financiamento europeu prioritário, não passou de um sonho paternal, uma vez que nem sequer pagou a 1ª fase que construiu. Foi o executivo que liderei que pagou grande parte da obra ao empreiteiro e ainda teve de pagar centenas de milhares de contos da expropriação dos terrenos; 

– A dita 2ª fase era um túnel que furava o monte de Santa Luzia, deixando uma inadmissível ferida a céu aberto na encosta voltada para a cidade, com um enorme impacto ambiental que nunca seria aprovado pelas entidades competentes. Além disso quem não arranjou financiamento para a singela obra que fez, como haveria de arranjar verba para um túnel daquela amplitude?

– A tal 3ª fase seria a da Rua dos Sobreiros que nós fizemos, pagando obra e expropriações, mas que o autor sonhava continuar por Carreço e Afife.

Imagine-se que o sonho era enviar o intenso trânsito pelo sopé do monte, acabando com o sossego nas tranquilas áreas residenciais de Carreço e Afife e, também, com as condições favoráveis à construção do vasto conjunto habitacional que, entretanto, floresceu na parte alta de Monserrate e Areosa ao longo da rua dos Sobreiros.

Como é evidente, o dito filhote padecia de maleitas tão graves e incuráveis que a morte era certa … mesmo que não tivessem acordado o sonhador!

Além disso o filhote não era tão robusto nem genial como os benevolentes olhos paternais o viam, uma vez que entre o final do então IC-1, na rotunda da Papanata que nós tivemos de fazer, e a rotunda da Abelheira, o complicómetro do sonhador obrigaria o trânsito a passar por três sobrecarregados cruzamentos urbanos, que também tivemos de fluidificar com rotundas (Axis, Continente e Hospital Particular).

A dita via ES ficou, também, com um perfil estreito e de reduzida segurança, principalmente se se comparar com a que foi feita depois entre a Abelheira e a Meadela (via dupla com separador arborizado) criando um novo acesso à autoestrada, que também não constava do dito sonho.

Porque, assinale-se, esta foi uma proposta concebida pela equipa que liderei, que fez diligências e conseguiu que fosse paga pelas Estradas de Portugal, exatamente o contrário do que tinha sido feito pelo sonhador na via ES, com evidente poupança de muitos milhões para a autarquia vianense. 

Aliás, os cruzamentos do Hospital Santa Luzia e do Seminário são também sinais evidentes da mudança de estratégia que protagonizamos: no último ano do mandato anterior o complicómetro mandou instalar semáforos nesses cruzamentos, que entupiam completamente o trânsito de saída e entrada no Hospital e da populosa urbanização de Monserrate. 

E foi por falta de jeito, não por falta de dinheiro, porque foi ainda durante o mandato de Cavaco Silva que, apesar da herança de uma Câmara depenada, nos abalançamos a fazer aquela primeira grande obra conseguindo que a JAE pagasse o complemento do financiamento europeu que obtivemos, para construir em 1995/96, os dois túneis rodoviários e mais dois pedonais na Avenida 25 de Abril! 

Já imaginaram o que seria o trânsito na cidade sem aqueles viadutos?

E, entretanto, batalhamos pela construção da A-28 até Caminha, para libertar a cidade de muito do trânsito que a atravessava.

Por favor, deixem descansar os mortos e não se aproveitem da benevolência do diretor da Aurora para reclamar tardias e malcheirosas autópsias.

 Pelo bom ar na diverCidade Saudável!

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