Sons efémeros… Conceitos do momento…

Sidónio Ferreira Crespo
Sidónio Ferreira Crespo

A Primavera, este ano, entrou bastante próximo da quadra Pascal. O Alto-Minho vestiu os seus adornos floridos e luminosos para receber a dama esperada. Mesmo antes de abrir a porta para nos fazer a visita obrigatória, já ela estava farta de anunciar a sua entrada pomposa, através dos campos em plena e vibrante florescência. O colorido das flores concorre para criar um ambiente de festa, que se respira por toda a parte, nas cidades, vilas e aldeias. Com o nascer do calor e da luz, as andorinhas aparecem, batendo com as suas asas negras os beirais ainda húmidos das nossas casas.

Os dias de sol primaveril avivam nos nossos corações o desejo da chegada de uma Páscoa feliz. As almas dos crentes voltam-se para Deus e o olhar das pessoas para as planícies engalanadas de variadas cores. O tanger dos sinos, nos campanários esguios, ecoa nos ares lavados como uma bênção divina. Neste contexto do viver, em sábado de Aleluia, os foguetes estalam no ar, anunciando que Cristo ressuscitou. Ao pensamento das gentes vem chegando, embora um tanto reticentes, recordações de épocas passadas. Surge o Domingo de Ramos com a sua procissão. O ramo benzido, que se conserva todo o ano, para proteção das trovoadas, num ambiente de devoção e fervor, aliado aos atos religiosos da Semana Santa, cada um com seu significado e dimensão.

Na nossa linda cidade, voltaram, no presente, as caricaturas de “Judas” a estoirarem, lançando nos ares longas fumaças, agora em Monserrate. No passado, a queima operava-se na Praça da República, nas proximidades do Museu do Traje, local dos mais antigos e artístico do burgo, que com as suas impressionantes belezas arquitectónicas torna-se num centro de cavaco e solenidades. Aparece-me na lembrança o saudoso Zé Rancheiro, figura castiça do meio, que em 1952, publicou, em verso, o “Testamento do Judas” afim de angariar receitas para fins sociais. Não resisto em transcrever uma das dezanove quadras… “Daquilo que possuía/Fez um rigoroso extracto/E resolveu deixar tudo/À gente do orfanato” …

Que linda que é, nas nossas terras, a Páscoa primaveril e florida, sobre o azul do céu das manhãs perfumadas, ou sob o luar alvinitente das noites silenciosas, transmitindo encanto, doçura e os atractivos das coisas da natureza. Domingo de Páscoa, dia da Cruz, o Compasso! É uma solenidade enternecedora e santa para o povo do Minho. Saboreia-se uma apetitosa comida regional regada com uma “pinga” a preceito. Os foguetes com os seus estrondos característicos anunciam a chegada do Compasso. Tudo é alegria, cor e movimento…

Nota:- Esta crónica, por vontade do autor, não segue a regra do acordo ortográfico

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