Sons efémeros… Conceitos do momento…

Sidónio Ferreira Crespo
Sidónio Ferreira Crespo

O cenário outonal começou a aparecer no panorama atmosférico. São as despedias do Verão numa apoteose de alegria e de recordações. É nesta quadra temporal que o vinho novo ferve nos lagares e as cantigas do pessoal sobem para o ar, por entre os vinhedos, a vindimarem os saborosos cachos de uvas. É a estação do ano que possui mais encantos, numa ligação emocional e afectiva com a natureza. Alia o sentimental e poético ao realista e prático. Amarelecem as primeiras folhas a dobrarem-se para o chão. As andorinhas preparam-se para partir. A paisagem adquire, ao cair da tarde, uns tons vagos, indecisos, melancólicos, carregados de penumbra. Nos campos, onde o Verão ainda tem alguns fulgores de grandeza, as árvores tomam atitude estáticas de aguarela. A luz é mais doce, mais pálida e os recortes das serranias são mais esbatidos e aumentam as correntes de água apresentando tonalidades diferentes.

O tempo passa tão depressa… Nesta estação do ano que dá início a um novo período escolar vejo-me, através do pensamento, integrado nesse cenário estudantil com passagem pela emblemática ferradura granítica do jardim D. Fernando direccionado para o Campo da Senhora da Agonia. Jogava-se a bola na sua antiga configuração térrea atento ao apitar do comboio a caminho da doca, ou no seu regresso para a estação, que no passado fazia esse trajecto, a fim de recolher ou entregar matérias dos navios que atracavam. A fantasia de pensar vagueia e leva-me, depois, integrado naquela época, até ao Jardim Publico, que o rio Lima, suavemente, lhe faz companhia, sentado num banco à espera do combinado encontro, ou a passear no espaço amplo e convergente coberto de arvoredo ladeado de arrelvamento com canteiros floridos. Faço reter a memória… e neste lugar ficarei, por muito tempo, onde o rio corre, sem pressa, para o mar a tornar-se num ambiente safadoso, que retempera. Tudo está calmo e aparentemente imóvel. Só as nuvens brancas, que atestam, no firmamento, a bonança desses Outubros outonais, continuam, devagar, a moverem-se. O vento passa tão alto e é tão sublime, que nem as folhas das árvores do jardim se fazem ouvir. E a Viana quimérica a rainha do Lima – que possui o condão de prender e fascinar. À noite, a majestade impõe-se, quer pela quietude, quer pelo luar que a beija, docemente. Um sossego paira na cidade adormecida envolta num manto iluminado tecido pelo rio, mar e serra. O sol, ao nascer, confere-lhe um tom dourado, concorrendo para a beleza que a envolve, ao mesmo tempo que uma aragem suave, que vem do lado do oceano, leva a todos os cantos da urbe o perfume dos seus jardins em conjunto com o cheiro a iodo oriundo da praia Norte. Como está previsto no calendário do viver, os pensamentos vão-se esbatendo perante o voar dos anos… Mas neste quadro da existência humana ficará, sempre, na mente de todos que visitam esta Terra que, ao percorrerem os seus recantos de eleição, detectam, sempre, feitiço e arrebatamento, numa envolvência campesina e urbana, em simultâneo, tranquilizadora, relembrando, paradoxalmente, que a vida é um mérito vivê-la.

Nota: – Esta crónica, por vontade do autor, 

não segue a regra do novo acordo ortográfico

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