Sons efémeros… 

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Felicidade não deixa de ser um tema palpitante e actual. Todos temos aspiração em alcançar tal objectivo. Há vários caminhos que nos fazem chegar a esse destino imaginário, porém, possível de se tornar verdadeiro. O curioso é que muitas dos factos que nos acontecem na vida estão dependentes de outros e não, exclusivamente, da nossa vontade. Podemos, mesmo, através desta variante, sem tão pouco entrar na esfera da fantasia criar a felicidade e vivê-la. O que seria, por exemplo, a augusta felicidade? O sucesso no emprego? A aquisição das mais variadas coisas de consumo ou outras, ao nosso gosto, e sem pensar no preço? Uma saúde perfeita apoiada por um suporte financeiro a evitar que venha a ficar descompensada? Um casamento ideal, duradouro, com filhos encaminhados para as melhores universidades. Uma fortuna ganha no euro-milhões? Vejamos, então, que todos estes valores fazem parte de um universo de felicidade material. Como mensurar esse grau de bem-estar? Qual o perfil desses ingredientes em ordem de mérito? Difícil, não? O que dizer da felicidade de fazermos alguém sorrir?

E quantos desprovidos de conforto material esboçam um exuberante sorriso de aparente satisfação? Como chegaram a isso? Esse ideal complexo constitui-se numa busca incessante do ser humano na área ambiental onde se encontra radicado, perante a órbita da sua parte imaterial. Contudo, quando procuramos a ventura no meio externo, de cunho essencialmente material, deixamos de mergulhar em nós mesmos; onde repousa o nosso tesouro, ficando a aguardar diversificados indicadores. Os valores que encerram o domínio das sensações, dos abalos momentâneos, enfim, do que é pessoal, íntimo, tornam-se mais difíceis de serem percebidos. O tempo para eles dispensado é ínfimo se o comparamos com o que dedicamos às causas materiais. Nesse mundo interior e profundo do indivíduo, ladeando o conceito do recurso à quimera é que se encontra abrigado o real conforto e sempre à espera que nos apercebamos dele. Sorrir faz crescer a sensação física e o estado de espírito de contentamento, visto alargar a segurança do âmago da pessoa, auxiliando, em certas alturas, a diminuir a angústia na procura de conhecimentos, porque cria um cenário de excelente trato social. Segundo alguns cardiologistas torna-se o sorriso, também, num bom antídoto para o coração.

Quantas e quantas ocasiões, no decorrer do ano e dos anos, as gentes furtam-se à escuta, deixando de ouvir as reclamações e as questões do semelhante, mesmo aquelas para as quais existe uma explicação plausível. Em inúmeras alturas uma palavra de apoio, um afecto ou um afago, mostrando um sorriso aberto, franco, sem fingimento, alimenta o ego de quem sofre e padece com os incômodos do infortúnio. Não se imagina, tantas vezes, o valor da aproximação, da expressão do amor e da verbalização, senão, quando se precisa. Tudo agravado, neste momento que passa, face ao nível de vida a complicar-se, cada vez mais, perante uma guerra com cenário na Europa,

Que não contribuímos para ela, mas a falar a razão do sentimento de prestar auxílio moral e material, alastrando as vicissitudes de cada dia na espera de uma resolução que demora a nascer e já a marcar cansaço. Perante todo este mundo de demandas, tanto o amor, como a raiva, o ódio, a disputa, a partilha e os segredos que fazem a dose da nossa vida não devem ser divididos no escuro, mas sempre na delineação do quotidiano do viver.

Talvez se possa afirmar que a felicidade encerra um sentido ingênuo e carregado de muita subjetividade. Podemos encontrá-la e deixá-la fugir por não se avistar a chegada, face à sua misteriosa conjuntura. Na nossa vida corpórea, em momentos de luz, no tempo, é um oscilar que surpreende, tornando-se mais cativante quando acompanhado de um sorriso acolhedor.

Nota: – Esta crónica, por vontade do autor, não segue a regra do novo acordo ortográfico.

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