Há dias, num exemplar deste jornal de 1948, deparamos com um anúncio provindo do Liceu Nacional de Viana, hoje Escola Secundária de Santa Maria Maior, anunciando de que não seriam admitidos alunos a exames sem prova de inscrição e prática assídua na Mocidade Portuguesa, masculina e feminina, ao longo do ano letivo. Era assim no tempo do Estado Novo: ou se pertencia à Mocidade ou era-se condicionado no ensino. Não era tão rigoroso o regulamento para os alunos das Escolas Industriais, mas a catequização de adesão ao regime também estava na ordem do dia.
Faz-se esta abordagem para que melhor se compreenda a pobreza desse tempo, que se refletia a todos os níveis, até no plano mental. O Estado Novo, em vez de dotar os estabelecimentos de ensino de suficientes condições para a atividade física e desportiva, tratava de por os estudantes a marchar, de braço estendido, à boa maneira hitleriana, procurando incutir-lhes o respeito pelo sistema. Não é por acaso que, mundialmente, também no desporto, não passávamos da mediocridade. Mas esse tempo já lá vai, e não vale a pena lamentar, permanentemente, o passado.
Viana do Castelo é, em 2023, Cidade Europeia de Desporto. No passado sábado, dia 21, no Centro Cultural e no Pavilhão José Natário, realizou-se a Gala de Abertura desta condição, na qual participaram todos os clubes e associações desportivas do concelho, autarcas e representantes de federações nacionais, contando ainda com a presença de João Paulo Correia, secretário de Estado da Juventude e do Desporto. Independentemente de pequenas insuficiências, sempre verificáveis em eventos do género, o que se pode dizer é que Viana do Castelo se mostrou exuberantemente como cidade concelho que respira desporto e que lhe foi bem atribuída a responsabilidade de, ao longo do ano de 2023, mostrar o valor que esta prática tem para os vianenses e para os europeus.
Viana do Castelo, independentemente de ter lacunas no plano dos equipamentos para a prática desportiva, menos na cidade, porque aqui pouco lhe falta, pode gabar-se de dispor hoje de uma atividade desportiva que ombreia bem com os restantes concelhos do país. Temos menor representatividade futebolística, se comparado com outros tempos, mas isso tem razões que aqui não vale a pena analisar. Em contrapartida, temos, entre outras, a prática dos desportos náuticos, que marcam presença no todo nacional, produzindo frequentemente campeões, honrando, de forma categórica, o nosso espaço. Por isso, há razões para confiar que, neste ano em curso, Viana se vai portar bem como Cidade Europeia do Desporto
GFM
