Távora na Ribeira Lima

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Carlos Branco Morais

Iniciaram-se, recentemente, as comemorações do centenário do nascimento de Fernando Távora, fundador da “escola de arquitetura do Norte” e autor do projeto de restauro e adaptação do Mosteiro de Refoios a Escola Superior Agrária (ESA) de Ponte de Lima, cuja concretização acompanhei apaixonadamente, na qualidade de presidente da respetiva comissão instaladora.

Consensualizado o projeto da ESA e o programa preliminar do restauro e adaptação do Mosteiro e novos edifícios para instalações desta, nos últimos anos da década de 80, convivi com Távora, não só para intermediar e diminuir tensões entre a sua equipa projetista e o Estado, cujos interesses estava incumbido de defender, mas também para meu enriquecimento cultural e artístico. Parte do convívio com ele, e com a sua equipa de arquitetos e engenheiros, realizou-se no local da obra, em Refoios, muitas vezes em diálogo com os executores do projeto, incluindo os operários, porque, como reconhecia Távora, “não se transforma uma realidade que não se conhece”. Estes convívios foram verdadeiras aulas práticas de restauro e adaptação de edifícios históricos a novas funções, não sobrepondo o edificado de novo ao preexistente, mas antes harmonizando um com o outro, num casamento perfeito entre a tradição e a modernidade, servindo de ponte entre o passado e o futuro, como a ESA pretendia ser.

Távora conhecia bem o Mosteiro desde a sua juventude, porque nele passara as férias de verão a sua colega de Belas Artes, com quem namorava e veio a casar. Convidados vários notáveis arquitetos a apresentarem propostas de elaboração do projeto de acordo com o caderno de encargos definido pela comissão instaladora, foi ele o escolhido, não só pelo melhor preço e qualidade estético-funcional da sua proposta, como pela sustentabilidade financeira da execução da obra. 

Como testemunha da sua grandeza profissional, intelectual e moral, ouso propor que a ESA, o Instituto Politécnico – cujo anfiteatro e anexo da sede são também da sua autoria – e os municípios de Ponte de Lima e de Viana se associem às comemorações, assinalando com dignidade o centenário de Távora, um dos maiores vultos da arquitetura contemporânea portuguesa.

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