Teimamos em não aprender

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Em democracia não pode haver tabus e nos órgãos de soberania todos os debates podem e devem ser feitos. Por vezes a opinião pública considera a nossa Assembleia da República um órgão de poder que se respeita mal. Mas, em torno de questões sérias, com mais ou menos divergência, antes debates acalorados do que unanimismos serôdios, condizentes com políticas governamentais. Quem ainda se lembra dos debates na Assembleia Nacional no tempo do Estado Novo, um hemiciclo laudatório do regime, onde o mofo estava permanente presente, não pode deixar de bater palmas ao Parlamento de hoje.

Contudo, nos debates inflamados das questões que se prendem com a boa governação, na base de raciocínios sólidos, onde cada um se deve questionar sobre os argumentos do outro, não pode caber a política interesseira e partidária. Nunca estivemos de todo bem, porque nunca fomos capazes de nos entendermos sobre as estratégias mais convenientes para encaminharmos o país na via do progresso, com todos a contribuir para a construção de uma nação independente de favores externos e onde todos tenham o direito de viver com dignidade. Porém, persistimos neste caminho, agora que nos encontramos num dos piores momentos da nossa história, às voltas com uma pandemia que nos deprime e com consequências imprevistas em todos os aspetos da vida económica.

O que aconteceu recentemente durante o debate do Orçamento de Estado, onde o folhetim Novo Banco foi de novo pretexto para “jogos florais”, teve aspetos pouco dignificantes para o Parlamento. Desde há muito tempo que todos sabiam que a nossa banca estava presa por arames, sem solidez e dependente do exterior, mas fomos empurrando os problemas com a barriga. Mesmo quando a Troika nos aconselhou a sanear os bancos (foi isto que se fez nos países abalados pela crise), disponibilizando-nos as verbas necessárias para tal, fomos adiando o assunto, até porque havia um intocável dono disto tudo, financiador de partidos e do mais que lhe dava jeito.

Perante este quadro, onde os partidos do arco do poder, em particular, têm as suas culpas, era tempo do entendimento e de acabar definitivamente com estas misérias que nos desgastam, corroem a democracia e dão de nós uma imagem pouco edificante. Todavia, teimamos em nos autoflagelar e a enveredar pelos piores caminhos, agora que tanto de mau nos está a acontecer, com tantas impossibilidades de lhe fazer frente. Haveremos de saber contornar obstáculos, mas tropeçaremos muito se o exemplo não vier de cima.

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